Coopítulo 63 - Exemplo de união
Por José Antonio Vieira da Cunha

Sábado ado, 1º de julho, foi o Dia Internacional do Cooperativismo, movimento criado em 1844 por um grupo de tecelões ingleses que se uniram para realizar compras em conjunto. Desde então, o cooperativismo é um modelo vencedor em nível mundial - estima-se que um bilhão de pessoas estejam integradas a ele - com sete princípios que o caracterizam desde sempre. Entre eles, a adesão livre e voluntária à ideia, a gestão democrática que assegura a participação de todos nas decisões da empresa - um membro, um voto - e a preocupação com educação.
A Cooperativa dos Jornalistas seria fundada exatos 130 anos depois, foi a primeira do gênero no país e estimulou a criação de uma dezena de irmãs pelo Brasil. Aquele interesse comum que reunia a todos estava concretizado na viabilização de oportunidades de trabalho para profissionais que, no século ado como agora, não identificavam um futuro otimista para a categoria. Unidos, aram a trabalhar para superar a falta de conhecimento do profissional jornalista para usar os meios adequados que levassem à organização e istração de seu trabalho. As quatro centenas de profissionais que ao longo dos oito anos de existência da Coojornal se juntaram aos fundadores tiveram de conviver permanentemente com esta realidade social e econômica.
Há controvérsias, sim, mas, de minha parte, vou morrer convencido de que o cooperativismo foi a melhor opção feita pelos 66 jornalistas que decidiram fundar uma empresa que teria este modelo como norte. O conceito central era a pedra de toque: na cooperativa, não há patrão; todos são iguais em direitos e deveres, e a relação entre os que atuam nela é de trabalho e renda, e não de emprego e salário. Uma diferença nada sutil, marcante no cooperativismo enquanto empresa que não visa lucro porque a prioridade é a pessoa.
Claro que na Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre era um desafio valorar cada trabalho do repórter, do editor, do fotógrafo, do diagramador, mas inevitavelmente a regra número um estabelecia que só poderia auferir renda quem trabalhasse; portanto, a condição de sócio não era determinante. Outro conceito básico embutia a ideia de que havia um interesse comum a congregar todos os que se integrassem à ideia - no caso, exercer um trabalho digno e ser dono do próprio nariz. O sócio Edgar Vasques foi muito feliz ao ilustrar uma edição do Coojornal, ainda enquanto boletim interno da cooperativa, com a figura do remo sem patrão. Todos estão ali, navegando juntos em busca de um interesse em comum, no caso, ser dono de seu próprio jornal, objetivo que foi o amálgama da cooperativa durante a melhor fase de sua história. E que sustentou o desafio de exercer com crítica e independência o bom jornalismo.
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Na história da Coojornal, Sepúlveda Pertence merece um registro especial. Foi fundamental com seu apoio voluntário e decidido ao trabalho do advogado Marco Túlio de Rose na libertação de nossos colegas Elmar, Rafael, Rosvita e Trindade que haviam sido presos pela publicação da reportagem sobre as deficiências do Exército no combate à guerrilha.
O ex-ministro do STF e ex-Procurador Geral da República morreu neste domingo e foi sepultado hoje, com longas mensagens de reverência a sua trajetória, feitas por incontáveis autoridades e políticos. Marco Túlio escreveu a respeito em seu espaço no Facebook:
"Sepúlveda Pertence, paladino da Liberdade! Recebo com tristeza a notícia da morte de Sepúlveda Pertence. Advoguei ao seu lado a causa dos jornalistas da Coojornal, processados e presos pela Justiça Militar pelo crime de cumprir seu dever de publicar assuntos de interesse público. Ele me acompanhou nos gabinetes dos ministros do Superior Tribunal Militar e pude testemunhar o imenso respeito que lhe era devotado. Certamente, sem ele não seria acolhido o habeas corpus que libertou nossos clientes, na época presos."