Coopítulo 62 - A Agência de Notícias

Por José Antonio Vieira da Cunha

Criar a Agência de Notícias Coojornal foi um dos grandes acertos. Atendia um dos pressupostos estabelecidos pela cooperativa, o de contribuir para ampliar o mercado de trabalho, e encontrou um mercado aberto e receptivo a esta atividade especializada. O prestígio alcançado pela Cooperativa dos Jornalistas graças ao Coojornal, mais o talentoso grupo de jornalistas que já atuavam na redação da entidade, foram decisivos para impulsionar a criação da agência, até porque estava se tornando rotina a demanda por coberturas jornalísticas para serem utilizadas em outros veículos, grandes e pequenos, especialmente de Rio e São Paulo.

Pareceu óbvio que estava ali uma boa fonte de receita, e montar a estrutura para a prestação deste novo serviço também foi relativamente fácil, visto que a cooperativa já tinha então todas as ferramentas necessárias para produzir desde notícias a amplas coberturas jornalísticas e fotográficas para terceiros. Assim, a Agência de Notícias Coojornal começou a atuar de forma mais consistente em 1978, e no final daquele ano atingiu seu apogeu com o sequestro dos uruguaios, que teve Porto Alegre como epicentro daquela crise internacional.

A agência da Coojornal flutuava com propriedade e competência na cobertura deste episódio de repercussão internacional, pois no centro dos acontecimentos estavam dois brilhantes profissionais associados, o repórter e editor Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo J. B. Scalco, que atuavam na sucursal da revista Veja no Rio Grande do Sul. Com seu texto minucioso e preciso, Luiz Cláudio registrou com riqueza de detalhes todos os acontecimentos no livro Operação Condor - O sequestro dos Uruguaios. Ali narra como os órgãos de repressão do Brasil e do Uruguai se uniram para capturar o casal Lílian Celiberti e Universindo Díaz, em novembro de 1978.

Luiz Cláudio era na época vice-presidente da Coojornal, e nossa agência se envolveu tanto com o episódio dos uruguaios que, tenho certeza, acabou realizando boa parte das melhores coberturas sobre o sequestro. Foi realmente um trabalho riquíssimo, com viagens ao interior do Estado e ao Uruguai para abastecer com informações exclusivas seus clientes - entre os quais estavam veículos nacionais e regionais, como Folha de S.Paulo, IstoÉ, Jornal de Brasília, O Globo, Folha da Manhã e Zero Hora.

Além de incrementar as receitas da cooperativa, as operações da agência traziam o adicional de otimizar o trabalho dos profissionais. Uma viagem era capaz de oferecer reportagem não só para o cliente que a demandou, mas viabilizava a realização de outros trabalhos, inclusive para os veículos de terceiros editados pela cooperativa e para a própria agência.

A jornalista Lenora Vargas e o fotógrafo Baru Derkin respondiam pelo gerenciamento do núcleo, enfrentando com garra as dificuldades que os meios de comunicação tinham de superar diariamente. Afinal, as formas de transmissão de notícias e fotos eram precárias, se formos considerar o que se pratica no século 21. Estava-se na segunda metade do século ado, e as notícias tinham de ser transmitidas através de telex, um terminal telegráfico no qual geralmente era o próprio repórter que precisava digitar o material colhido, por mais extenso que fosse. E o fotógrafo também tinha de se desdobrar para enviar sua produção através das radiofotos ou telefotos, que exigiam que o próprio profissional se encerrasse em um local escuro - muitas vezes o banheiro ou o armário do hotel - para revelar seu material e transmiti-lo para a redação.

O lançamento de O Rio Grande levou a cooperativa a adotar uma decisão equivocada: para atender às exigências da redação do novo semanário, a agência foi esvaziada. Voltaria com o encerramento do jornal, e tendo desta vez de enfrentar um desafio inesperado. A criação da agência mostrara aos jornalistas que ali estava um filão interessante, e ou a sofrer uma concorrência intestina. "Houve casos de associados que poderiam ter comercializado sua produção através da agência e não queriam fazê-lo, e houve casos também de concorrência desleal, de pessoas que aviltaram preços em comparação à cooperativa, para assegurar a preferência do cliente", diria depois Lenora. Aviltaram-se os valores praticados no mercado, rompendo o espírito de solidariedade que deveria imperar entre os cooperativados. É ruim, muito ruim, mas infelizmente aconteceu repetidas vezes.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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