Coopítulo 59 - Um Ano Econômico

Por José Antonio Vieira da Cunha

Na Primavera de 1979 a Coojornal lançou o que seria uma de suas mais importantes publicações, embora tivesse sobrevivido por apenas dois anos. Ali, na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, foi apresentada a primeira edição da revista Ano Econômico, publicação que trazia informações, análises e debates sólidos sobre a realidade econômica do Rio Grande do Sul. Era uma tarefa ousada, enfrentada com competência por aquele grupo de jornalistas reunidos em cooperativa. Apresentavam à sociedade o cuidadoso levantamento realizado por profissionais escorados em uma convicção, a de que não há decisões, empresariais ou de governo, que possam ser eficazes e eficientes a um só tempo se não forem baseadas no conhecimento concreto da realidade em que se vive. E este conhecimento estará calcado na informação.

No ato de lançamento registramos como significativo o fato de que, ao abrigar o evento em sua casa, a principal entidade empresarial gaúcha estava reconhecendo o trabalho da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. Afinal, haverá sempre um abismo a separar os principais interesses de uma categoria de trabalhadores como a de jornalistas com os que movem a classe empresarial. Daí este trecho da fala que fiz, enquanto presidente da Coojornal:

- A verdadeira prosperidade não é conquistada apenas com o crescimento econômico, mas também com a tolerância, o debate, a troca de ideias, o respeito pelas ideias alheias, o reconhecimento do patriotismo das diversas partes que compõem a sociedade, mesmo quando elas se colocam em campos opostos em defesa de seus legítimos interesses. Pois aqui está uma cooperativa, a corporificação da iniciativa empresarial de trabalhadores sem capital, uma destas tantas micro ou pequenas empresas que povoam o Rio Grande, apresentando o seu trabalho para o mais seleto grupo de empresários de nosso Estado - dentre eles, alguns gigantes industriais, como a demonstrar que se anseia por uma sociedade pluralista.

E mais adiante, numa referência ao momento político difícil que a sociedade brasileira vivia, ainda sob os ditames do regime militar:

- Entendemos que a Federação das Indústrias nos recebe porque os empresários do Rio Grande desejam viver numa nação livre e democrática, e porque esta cooperativa, com apenas meia década de existência, demonstrou que merece crédito e que é útil a uma sociedade livre, para demonstrar, igualmente, mais uma das singularidades deste nosso chão.

E era mesmo um evento singular, pois na mesa dirigente estavam o governador do Estado, Amaral de Souza, seu vice, Otávio Germano, e o presidente da Assembleia Legislativa, Carlos Giacomazzi. Suas presenças ali acentuavam a importância política do momento, um período em que a atividade e os políticos gaúchos eram irados em escala nacional, e em nenhum outro estado a política, os políticos e os organismos que eles dirigem exibem tanta preocupação em respeitar a integridade e a influência da sociedade civil. Esta capacidade de convivência respeitosa foi ressaltada no discurso quando expressei que precisava ser mantida e ampliada e, na frente do governador e do vice eleitos pela via indireta, afirmei:

- Será preciso que a sociedade e o Estado no Brasil alcancem um amplo entendimento capaz de possibilitar que as reivindicações dos diversos setores sejam ouvidas, que os diversos setores da sociedade se organizem e escolham seus representantes, que as divergências sejam conduzidas dentro da lei e sejam recebidas com a tolerância que caracteriza uma sociedade verdadeiramente democrática. 

A menção ao ato na considerada "grande imprensa" foi praticamente nula, ignorando a importância da publicação e o fato de reunir, na sede da Federação das Indústrias, com o apoio declarado da Federação do Comércio, governador, vice-governador, secretários de Estado, dirigentes de bancos públicos e privados e de cerca de 140 instituições e empresas gaúchas. Mas estes não se decepcionaram com o que receberam em mãos: o anuário trouxe informações reveladoras e relevantes sobre a economia do Rio Grande do Sul, comprovando a excelência editorial do trabalho desenvolvido pelos cooperativados da Coojornal. A edição mobilizou 35 profissionais, a maioria deles associados, mais um contador-analista e oito estagiários de economia. Ficou, para o trabalho que se repetiria no ano seguinte, a certeza de que seria mais um sucesso editorial e financeiro.

(Continua).

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

Comments