Coopítulo 49 - Dos princípios

Por José Antonio Vieira da Cunha

Quando completava cinco anos, crescia e provocava questionamentos e dúvidas, tanto entre patrões como entre empregados, a Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre lançou um posicionamento, uma espécie de manifesto, no qual deixava bem claros os princípios que levaram a sua criação e sustentavam a iração e o respeito que a iniciativa conquistara.

A manifestação iniciava lembrando que, no Brasil, jornal era coisa de família. Eram dominados pelos Caldas (Correio do Povo, Folhas, Rádio Guaíba), os Mesquita (Estadão, Jornal da Tarde, rádios), os Marinho (O Globo, TV Globo, rádios e emissoras por todo o país), os Sirotsky (Zero Hora, TV e Rádio Gaúcha, mais dezenas de emissoras de rádio e televisão), os Pessoa de Queiroz (jornal, rádio e televisão em Pernambuco). Neste ambiente é que a Coojornal se destacaria por ir na contramão do status quo empresarial na área da comunicação.

Vale registrar com todas suas letras esta verdadeira declaração de princípios:

"O jornalista escreve, fotografa, edita e pode até influir. Mas não dirige, não istra. Ou, quando chega à direção de um jornal, deixa de ser jornalista. Esta é a regra. 

Isso é o que a maioria das pessoas pensam e foi por isso que ninguém deu maior atenção àquele pequeno grupo de jornalistas gaúchos que no dia 24 de agosto de 1974 anunciou que havia fundado uma cooperativa. Uma cooperativa para fazer jornal...

Foram cinco anos duros. Mas hoje é inegável; a Coojornal é a ideia nova que vingou. E não vingou apenas como a exceção que confirma a regra. Os jornalistas gaúchos com o seu exemplo abrem uma perspectiva nova para os profissionais de imprensa de todo o país. Hoje temos no Brasil oito cooperativas de jornalistas, todas inspiradas no Coojornal.

315 jornalistas formam a Coojornal hoje. Eles acreditam que o jornalismo não é apenas um negócio. É quase um serviço público. A informação tem uma função social da mais alta relevância. O jornalismo deve oferecer o entretenimento, a leitura amena, o atempo. Mas deve também integrar as comunidades, deve esclarecer os cidadãos a respeito dos seus problemas, dos seus direitos, dos seus deveres. Deve ser veículo de ideias, palco de discussões, instrumento de defesa do interesse público. Deve ser exercido com humildade, honestidade e independência e sem medir os riscos na defesa dos seus princípios. 

Este foi o caminho que nos levou ao cooperativismo, que é uma forma de organização essencialmente fundada na solidariedade e na democracia que existe."

Isso mesmo, o princípio da democracia, que assegura participação, esteve sempre muito bem presente nesta iniciativa, por se contrapor ao modelo econômico em que predomina a vontade do capital. Vale ressaltar: no ambiente cooperativista, cada integrante tem direito a um voto, independente do capital que tenha aportado, um pilar do modelo cooperativista escolhido pelos idealizadores e depois consolidado pelos 66 fundadores. 

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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