Coopítulo 48 - Que leitor é esse

Por José Antonio Vieira da Cunha

Era dezembro de 1979 quando os economistas Eduardo Dutra Aydos e Virgínia Aydos Villarinho entregaram o relatório de uma pesquisa sobre o perfil sócio econômico do público leitor do Coojornal. Trouxe resultados importantes que ajudaram a afinar a receita editorial do mensário e dar bons elementos de venda para o setor comercial, que neste período também andava muito bem, obrigado.

O primeiro tabu derrubado pela equipe de nove pesquisadores, oito dos quais sociólogos, foi o de que o Coojornal, assim como os demais veículos da imprensa alternativa ou nanica, seria lido basicamente por estudantes sem poder aquisitivo. Ledo e ivo engano, isto é, um "engano alegre": o estudo revelou que 84,5% deste público era formado por pessoas que trabalham - embora, claro, muitos estudantes estejam incluídos nesta categoria. 

O trabalho voluntário liderado por Aydos e Virgínia foi feito da forma mais econômica possível. Um questionário auto explicável foi incluído na edição de maio, juntamente com um envelope de resposta comercial. Que teve um índice de retorno ótimo considerando-se a dificuldade de resposta, que exigia cerca de 15 minutos para preencher, mais a ida até uma agência de correio para seu envio. O resultado foi altamente satisfatório por atingir o índice de 3% de retornos, excelente considerando-se que se tratava de uma mala direta.

Outro dado considerável foi que, dos 807 respondentes, quase a metade deles, 380, residiam em outros estados da federação, atestando o prestígio e alcance nacional do jornal da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre. A receptividade do jornal crescia de forma surpreendente, e naquele período, meados de 1979, 59,3% da tiragem de cerca de 30 mil exemplares circulava em outros estados que não o Rio Grande do Sul.

O índice de resposta foi ótimo porque a pesquisa não prometia nenhum tipo de recompensa aos respondentes e exigia uma boa dedicação àquele questionário complexo. E entre tantos dados interessantes, o resultado final trouxe a confirmação de que os s formam mesmo um povo fiel. Embora responsáveis por apenas 11,2% dos exemplares distribuídos, eles responderam por 37% das respostas recebidas. 

Estes leitores também liam Veja (67%), Istoé ((51,8%), Movimento (35,6%) e O Pasquim, entre outros. E eram fiéis de verdade: 62,5% disseram considerar o Coojornal com nível superior ao das demais publicações, 33,6% entendiam que tem o mesmo nível e apenas 1,1% respondeu considerá-lo inferior.

Este universo de leitores era altamente qualificado: 78,5% deles eram de nível superior; 78% tinham entre 20 e 42 anos; 57% estudavam; 27% eram profissionais liberais; 41%, casados; e 76% tinham uma renda superior a nove salários mínimos. Um público nada inconsequente, portanto, razoavelmente maduro e com invejável poder aquisitivo.

E que povo respeitável! Em fevereiro de 1980 um anúncio exibia uma amostra destes que liam o jornal. Lá estão escritores, como Nélida Piñon, Júlio Chiavenatto e Moacyr Scliar; líderes religiosos, como Dom Tomás Balduíno e Dom Pedro Casaldáliga; artistas e intelectuais, como Elis Regina e João Bosco; jornalistas e pensadores influentes, como Henfil, Fernando Gabeira, Tárik de Souza e Carmo Chagas; e lideranças empresariais, como Luiz Carlos Mandelli e Ruben Ilgenfritz da Silva, um presidente da Fiergs, o outro da Cotrijuí, ambas em seus melhores momentos.

Era uma boa amostra do prestígio do Coojornal, que se apresentou sempre como um veículo de ideias e opiniões. E solidário, democrático e independente como aqueles tempos obscuros exigiam.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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