Coopítulo 47 - A origem (II)

Por José Antonio Vieira da Cunha

Pois é, dúvidas era o que mais pipocava naqueles encontros iniciais para avaliar e levar adiante a ideia de se criar uma pioneira cooperativa de jornalistas. Eram muitas mesmo, pois seria a primeira vez que se teria no país uma organização deste gênero.

Uma delas, considerada muito relevante: além de jornalistas, a cooperativa poderia ter também publicitários e relações-públicas como sócios? Esta foi uma inquietação resolvida de pronto, quando se estabeleceu que o estatuto contemplaria que profissional liberal também teria a possibilidade de participar, como uma espécie de sócio colaborador.

O estatuto começava a tomar forma ali naqueles encontros, e logo houve a definição dos objetivos da cooperativa: edição de jornais e periódicos, veiculação de publicidade, assessoria e planejamento gráfico e editorial, agência de notícias. Ao final, restavam poucas interrogações, como esta inquietação para a qual não se encontrou a resposta: poderia a cooperativa oferecer assistência social e financeira aos associados? 

O atento 'secretário' Elmar escreveu a ata que registra a origem de tudo. O próximo encontro seria uma semana depois, desta vez no prédio em frente, onde tinham seu estúdio profissional dois futuros sócios, os fotógrafos Carlos Rodrigues e Floriano Bortoluzzi. Era o Stúdio Diafragma, que nos primeiros meses operou muito bem como uma sede improvisada. Então, em 26 de julho houve a reunião decisiva, que definiria a data da assembleia para o mês seguinte, com a batida de martelo em relação ao teor do estatuto, a fixação do valor da quota parte e a definição sobre o local da assembleia. Na indecisão sobre ser na sede do Sindicato dos Jornalistas, marcada já pelos desatinos da repressão, a opção acabou sendo pelo histórico prédio da Associação Riograndense de Imprensa, a ARI, que entre momentos importantes foi testemunha também da criação oficial do tradicionalismo gaúcho, mas esta já é outra história.

Para o sucesso da empreitada era importante ter o apoio de personagens com boa influência na categoria. Fomos à listagem, lembrando de parceiros que não se itia que não estivessem conosco: João Souza, Carlos Urbim, Carlos Rodrigues, Assis Hoffmann, Rogério Mendelski, Danilo Ucha, Roberto Appel, Luiz Cláudio Cunha, Marques Leonam, Robson Flores, Érico Valduga, Carlos Salzano, Carlos Bastos, entre tantos outros.

Quase todos eles formaram o povo de 66 jornalistas que ajudaram a erguer a Coojornal subscrevendo quotas-partes do capital inicial. Ali naquela assembleia de fundação, cada um se comprometeu com a ideia assinando notas promissórias no valor de 350 cruzeiros, o que equivalia a um salário-mínimo. Contei outro dia: ao aqueles papéis azuis, parecia que estavam em um recreio, tão alegres e fraternos conversavam aqueles homens e mulheres que, verdade seja dita, ainda não tinham a ideia da dimensão da página que começavam a escrever na história da comunicação do Rio Grande do Sul.

E assim aconteceu o marcante 24 de agosto de 1974. Que, ironia do destino, o primeiro boletim informativo da Coojornal registrou como sendo dia 23. Fora a data, a história está bem impressa ali:

- No dia 23 de agosto de 1974, sessenta e seis jornalistas de Porto Alegre reunidos na Associação Riograndense de Imprensa fundaram a Coojornal - a primeira cooperativa de jornalistas do país. Estavam reunidos por alguns problemas objetivos como o mercado de trabalho, as limitações e o imobilismo das grandes empresas jornalísticas e por um desejo que é comum a todo o jornalista em determinado momento - o de ter o seu próprio jornal.

Que, nesta linda história, acabou sendo o Coojornal.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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