Coopítulo 46 - A origem (I)

Por José Antonio Vieira da Cunha

A data de 24 de agosto de 1974 marca a fundação da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, e lá se vão 48 anos... Mas a ideia de se criar um jornal no qual a orientação editorial e o comando de todo o processo fossem exercidos pelo grupo de profissionais envolvidos começou bem antes, em longas conversas que se iniciaram em mesas de bar, como não poderia ser diferente, mas que começaram a se tornar sérias e provocantes. O que movia idealizadores e fundadores daquele organismo que viria a gerar o Coojornal era o descontentamento com a imprensa que se praticava naquela época, aliado à vontade de os próprios trabalhadores serem donos do negócio, e não só de seus narizes.

A inspiração inicial veio de uma nota publicada no Jornal da Tarde, diário paulista que se destacava por suas ousadias editoriais e gráficas. A breve notícia mencionava o diário Il Giornale, de Milão, "um jornal editado por uma cooperativa de editores". Foi o estopim positivo para incrementar as conversas naquela mesma noite, agora de forma muito séria, cada vez mais dedicados que estávamos a estudar aquela novidade. 

Assim, a ideia de uma cooperativa de trabalho como esteio a sustentar este idealismo concretizou-se após aquelas discussões. O caminho do cooperativismo pareceu desde o início o mais acertado, ao trazer o desafio de se ter um organismo efetivamente democrático. Nele, os próprios cooperativados detêm o controle do negócio e estão diretamente comprometidos com os resultados

O apartamento 21 da Rua José do Patrocínio, 111, foi o abrigo ideal quando as conversas iniciais começaram a ter consequência, tanto que as decisões tomadas ali em minha residência aram a ser registradas em ata. Em 19 de julho daquele ano o debate estava maduro, e a reunião que se realizou já objetivava encaminhar a formação de uma cooperativa, com análise de seus aspectos legais e financeiros, mais as dificuldades que toda a burocracia carrega. Não se pode esquecer que naquela época o sistema cooperativista brasileiro estava sob as asas do Incra, organismo federal criado originalmente para gerenciar a reforma agrária no país. Longe, pois, muito longe de contemplar as inquietações de um grupo de trabalhadores urbanos.

Daquele encontro histórico participaram Elmar Bones da Costa, Euclides Torres, Jorge Polydoro, Osmar Trindade, Rosvita Saueressig, eu. É momento histórico porque deliberações importantes erguiam a estrutura do embrião que começava a tomar forma. Rosvita ficou encarregada de conversar com o dirigente regional do Incra sobre os tais aspectos legais e respectivas exigências. Eu teria de contatar um advogado especialista em cooperativismo para esclarecer outras dúvidas. Eram muitas: Como estabelecer o valor das quotas-partes? Qual o limite mínimo para subscrição? Em quantas parcelas mensais poderiam ser quitadas? O pagamento poderia ser feito com desconto em folha? O capital precisa ser fixado no momento da fundação? O que fazer com o dinheiro inicialmente arrecadado? Pode ser depositado em caderneta de poupança?

A solução prática foi convidar os associados fundadores a subscrever notas promissórias no valor da quota-parte. Anos mais tarde, Aristóteles Schmidt de Azevedo, o Tota, que atuava na área istrativa da sucursal da Gazeta Mercantil, relembraria com orgulho: "Nas horas de folga eu fui um dos cobradores da cooperativa".

Havia muitas outras dúvidas; não por acaso, era o que mais pipocava naqueles encontros. Voltaremos a elas semana que vem.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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