Coopítulo 44 - Nos anais da ditadura (II)
Por José Antonio Vieira da Cunha

"Acompanhamento da atuação da imprensa do RS", o relatório do Serviço Nacional de Informações, revela, como visto na coluna anterior, os preconceitos, o despreparo e a ignorância dos agentes federais da época em sua vigilância sobre a atuação dos veículos de imprensa, suas empresas e profissionais. Em fevereiro de 1979, o panorama que os vigilantes da censura apontavam não era cor-de-rosa, como gostariam, mas também não decepcionava de todo a postura dos grandes diários que circulavam no Rio Grande do Sul nos anos 70.
O documento de 11 páginas se dedica especialmente a interpretar o posicionamento editorial de cada um dos diários daquela década: Correio do Povo, Folha da Manhã, Folha da Tarde, Jornal do Comércio e Zero Hora e o mensário Coojornal. As quatro páginas e meia dedicadas exclusivamente a eles iniciam-se com uma análise sobre "a conduta na abordagem dos assuntos que envolvem problemas relacionados com o moral, os costumes e a religião".
O documento ressalta que e JC tratam esses assuntos "de forma séria e comedida, restringindo-se ao relato dos fatos". Em contraponto, ZH, FM e FT são sensacionalistas quando abordam esta temática, muitas vezes "descaracterizando e desmoralizando a ação dos órgãos policiais e das autoridades", lançando dúvidas "sobre a validade de certos padrões morais".
E o Coojornal era visto assim, na grafia original: "Encontra-se dentro da mesma linha de orientação os demais jornais da imprensa 'ALTERNATIVA', que atuam no país, apresentando conteúdo frontalmente contrário ao Governo, às suas instituições e ao Regime Político implantado em 31 MAR 64". Abusaria ao, "geralmente", abordar assuntos de forma contrária à moral e aos bons costumes. "Os artigos de cunho religioso dão apoio integral à atuação e à orientação do clero 'Progressista' católico, e aos grupos religiosos que fazem oposição ao Regime atual", registra textualmente.
Há também na análise policial as "ações com o objetivo de influenciar a opinião pública, colocando-a em oposição ao Governo Federal". e JC são aprovados com mérito neste quesito, enquanto ZH é ignorada e FT criticada porque, embora não tente influenciar a opinião pública, "determinadas edições fogem desta linha, devido ao sensacionalismo das manchetes e dos conteúdos das charges".
Aqui, outro parágrafo mais extenso para o Coojornal, tido como "bastante agressivo no desenvolvimento do seus artigos, com o objetivo de influenciar a opinião pública contra o Governo. Para tanto, procura denegrir a imagem das instituições e das autoridades governamentais, além de combater o atual Regime Político (na grafia original)".
No item sobre veiculação ou apoio dado a partidos políticos ou "a entidades de oposição contestatória", o Jornal do Comércio a com louvor, ao apresentar "noticiário bastante favorável ao partido do Governo". Correio e Folha da Tarde são considerados "imparciais no trato de assuntos de cunho político-partidário", enquanto Folha da Manhã e Zero Hora enfatizariam as notícias sobre a oposição. E o nosso querido mensário? "O Coojornal dá total apoio aos blocos, ou organizações políticas de oposição ao Governo, veiculando sistematicamente notícias desfavoráveis ao partido situacionista".
O surpreendente é que, na "análise sintética sobre os principais dirigentes e articulistas" destes seis jornais, o Coojornal é o que merece menos atenção - apenas são mencionados oito integrantes da redação e o gerente industrial, sem qualquer referência à atuação de qualquer um deles. Como se os 'analistas' tivessem dificuldades para entender o que escreviam...
(Continua)