Coopítulo 40 - Hoje como ontem
Por José Antonio Vieira da Cunha

E se o Coojornal estivesse circulando nos dias de hoje?
Matéria prima não lhe faltaria. Como um jornal independente, flutuaria com a mesma dedicação, credibilidade e competência por temas como Lava-jato, Petrolão, Mensalão, corrupção à direita e à esquerda, urnas eletrônicas, liberdade de expressão. Trataria com profissionalismo estes temas que alimentam mensagens geralmente iradas nas redes sociais, nesta internet considerada mídia alternativa e que, no entanto, está longe de ser jornalismo alternativo. Seria um farol confiável para entender o cotidiano.
Não há dúvidas de que enfrentaríamos muitos episódios de contestação e incompreensões, pois tanto quanto registrar os desvios da esquerda no poder não pouparia nenhum dos atentados que a direita faz às liberdades e à democracia, entre tantas ofensas à sociedade. Não faltariam também manifestações de críticos mais preocupados em atingir a idoneidade do jornal do que em defender seus argumentos. E, outra certeza, lá no século ado como agora, não faltariam episódios de perseguição política e ameaças, veladas ou não, aos anunciantes.
O Coojornal voltaria a marcar época como referência de bom jornalismo, ele que se notabilizou exatamente por não ter viés ideológico como seus contemporâneos também importantes, jornais como Opinião, Movimento e Versus. Independente e suprapartidário, o Coojornal não fazia oposição ao regime militar - fazia jornalismo, sem sectarismos e com absoluta seriedade. Uma orientação editorial com estas características não tem como não irritar governantes e poderosos...
Estava bem à frente de seu tempo, com uma linha editorial que contribuía para a formação crítica de toda uma geração. Política, história, cultura, comportamento, o Coojornal entrava fundo em todo tema que abordava. Nos dias de hoje, ah, nos dias de hoje, estaria registrando com maestria os episódios marcantes da sociedade brasileira, servindo de memória confiável para a História, como ainda são aquelas páginas feitas com suor e coragem.
Saudosismo do escriba? Um pouco, sim, mas também a convicção de que o Coojornal faria muito bem à saúde mental de todos nós. Ao estimular o debate e trazer luzes para fatos obscuros ou ignorados pela mídia convencional, sendo sempre responsável nestas denúncias, o Coojornal estaria ocupando um espaço relevante no estímulo ao debate de ideias e opiniões. Sem preconceitos, sem revanchismos, sem intolerância nenhuma.
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Vale muito visitar a exposição de obras de Maria Lídia Magliani, na Fundação Iberê Camargo. Nos anos setenta era uma jovem que sobrevivia com o salário de diagramadora e ilustradora na Folha da Manhã. Editor de Cidade e Geral, muitas vezes era a ela que eu recorria quando tinha uma em mãos uma reportagem que, por características diferenciadas, exigia um olhar mais atento e sensível no momento de se materializar em papel. Já ali Magliani ilustrava estas reportagens muitas vezes com suas gordas nuas que intrigavam alguns, espantavam outros, mas sempre atraindo iração. Foi mais tarde, em 1977, que enfim começou a ser reconhecida no cenário das artes graças ao primeiro prêmio no I Salão de Desenho do Rio Grande do Sul. "Quando eu pinto minhas gordas, quero que elas saiam da tela e sufoquem o telespectador", ela disse. Não queria sair do Estado, mas o mercado de arte era pequeno e buscou voos em São Paulo e no Rio, onde morreu dez anos atrás. A exposição dela vai até julho, mas não deixe para os últimos dias.