Coopítulo 26 - Crítica e independência

Por José Antonio Vieira da Cunha

Não me cansarei nunca de enaltecer as qualidades e a respeitabilidade do trabalho desenvolvido pela Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, uma forma de relembrar aqueles momentos importantes da vida nacional e mostrar aos jovens que é possível, sim, exercer com crítica e independência o bom jornalismo. Crítico e independente há cinquenta anos, assim como crítico e independente precisa ser hoje, tantas são as ameaças de desestabilização da ordem legal.

A Coojornal teve um fim polêmico e doloroso, e, embora seja difícil abordar este momento final, vai chegar a hora em que será necessário encarar de frente o epílogo. Agora a hora é de registrar o que podem ser consideradas boas lições para a história do jornalismo, como o trabalho criterioso que resultou no anuário já detalhado aqui, o Ano Econômico. O cuidadoso levantamento realizado com esforço e dedicação profissionais, apesar de algumas imperfeições, revelava a preocupação direcionada para contribuir de alguma maneira para o esforço de crescimento. E, ao oferecer uma informação precisa, prudente e oportuna como a apresentada pelo anuário, contribuía-se para uma tomada de decisões equivalentes.

Um entendimento basilar é o de que a verdadeira prosperidade não é conquistada apenas com o crescimento econômico, mas também com a tolerância, o debate, a troca de ideias, aí embutido ainda o princípio do respeito às ideias alheias. O cenário para debates não era nada amigável no final dos anos 70, mas estávamos lá dedicados a ser agentes relevantes neste contexto.

A Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre era a própria corporificação da iniciativa empresarial de trabalhadores sem capital, uma das milhares de empresas que ontem e hoje povoam o Brasil. Mas a Coojornal tinha um espírito que compreendia mais que uma cooperativa. Tratava-se de uma organização que reunia homens e mulheres cultuadores dos princípios do jornalismo profissional. Com seu trabalho, buscavam também ser o espelho fiel da realidade mesmo quando ela se encontrasse disfarçada ou oculta. 

Atuar com senso crítico e independência era nosso norte, e é o que nos assegurava credibilidade, uma valiosa contribuição para entender aqueles tempos bicudos. Não é à toa que uma imprensa livre nem sempre cobra um preço baixo, mas é insubstituível, e hoje, como ontem, esta é uma verdade incontestável. A fantasia, a ilusão e a negação da realidade conduzem ao desastre, ao dissenso e à infelicidade coletiva. Fiquemos atentos, pois.                                              

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Naqueles tempos - oh, tempos! - havia em nosso ambiente, o território gaúcho, uma sensação de respeito pela arte de exercer a política e pela arte de governar. O consenso era de que em nenhum outro Estado a política, os políticos e os organismos que eles dirigiam, com exceções episódicas que apenas confirmam a regra, exercitavam tanta preocupação em respeitar a integridade e a influência da sociedade civil. O que se pergunta hoje é: por que este tempo acabou?

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas agens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem cinco netos. E-mail para contato: [email protected]

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