Construtores de frases
A história da Rádio Guaíba é uma das mais gloriosas entre todas aquelas construídas no Brasil por qualquer veículo de comunicação. Com certeza, ocupa …
A história da Rádio Guaíba é uma das mais gloriosas entre todas aquelas construídas no Brasil por qualquer veículo de comunicação. Com certeza, ocupa posição destacada e singular na história do rádio e, em especial, do rádiojornalismo praticado no país. Trata-se de marca tão forte que sobreviveu à vertiginosa derrocada do grupo Caldas Jr., ao também vertiginoso crescimento da RBS e ao segundo dono. Agora, sob comando da Igreja Universal do Reino de Deus, a Guaíba ainda detém parcela razoável de audiência, o que não é pouco diante dos desafios a que foi submetida nas últimas três décadas.
A lembrança desse histórico foi despertada ontem por uma nota
Reforçar a ideia de compromisso? Jornalismo investigativo? Verdade como única fonte ouvida? Ai, ai? Os construtores de frases formam um universo de artistas invejáveis, porque suas obras são praticamente isentas de qualquer limite.
Já escrevi aqui sobre o modelo de rádiojornalismo sem povo que é feito no Brasil. Na semana ada, escrevi sobre a fraude jornalística em que se constitui, em larga escala e invariavelmente, a cobertura de eventos pelos diversos segmentos de mídia, inclusive o rádio. Agora tentei evitar a campanha da Guaíba, mudar de assunto. Não deu. E explico o motivo.
itida, por generosidade e para simples formulação de raciocínio, a idéia de que "jornalismo investigativo" seja algo mais do que jornalismo, a Guaíba está prometendo uma revolução editorial - e também operacional. Não se trata de "reforçar a ideia de compromisso" com o "jornalismo investigativo", porque o conteúdo amplamente predominante que apresenta hoje não inspira essa idéia e nem sugere que tenha tal compromisso, independentemente de qual seja a disposição de seus profissionais.
Na verdade, acho provável que os idealizadores da campanha da Guaíba saibam que "jornalismo investigativo" apenas quer dizer jornalismo. Esse "investigativo" não identifica uma evolução ou um ramo novo. Em vez disso, significa uma regressão ao beabá do jornalismo inspirada pela inconformidade de alguns profissionais, no exterior e no Brasil, com a acomodação de outros e com o conteúdo burocrático, superficial e comprometido - em âmbito institucional e/ou comercial - que a maioria dos veículos oferecia e/ou oferece ao público.
Alguns praticantes do "jornalismo investigativo" pretendem se diferenciar dos demais jornalistas declarando-se independentes. No caso deles, pode ser uma pretensão irável. Mas quando esse discurso é apropriado por um veículo ou empresa de comunicação, dificilmente será outra coisa além de uma tentativa de enganar o público.
Em essência, a promessa de "jornalismo investigativo" cumpre o mesmo papel da proclamação de que "a verdade" é a "única fonte" ouvida (sic). Ai de vós, construtores de frases!