Constrangimentos

A Martha Medeiros, nesta semana, no Zero Hora, escreveu sobre a queda da audiência das novelas. Abriu o texto, contando quando, ainda menina, foi …

A Martha Medeiros, nesta semana, no Zero Hora, escreveu sobre a queda da audiência das novelas. Abriu o texto, contando quando, ainda menina, foi flagrada pelo pai, assistindo a uma cena que ela julgara imprópria. A Martha ficou constrangida.


Este final de semana foi de cinema para mim e para minha filha de 15 anos. Assistimos, na tarde de domingo, "A Outra" e "Sex and the City". "A Outra" é um filme fantástico; ao pé da letra, conta a história da gênese de uma mulher que, em seu reinado, pacificou seu país e estabeleceu as diretrizes da sociedade inglesa contemporânea.


Já o "Sex and the City" não decepciona. Para as, e os, fãs do seriado, é uma versão com pimenta. Nesta sessão, entretanto, deparei-me com uma situação, no mínimo, diferente. Sentamos na frente de uma gordinha que lembrava o bonequinho da Michelin: fornida e simpática. Quando chegamos, ela já estava equipada com dois baldes, um de refrigerante, outro de pipoca.


Mas o que chamou a atenção mesmo foi excitação da figura; a cada cena mais caliente, eram ais e uis como se ela estivesse só, ou fazendo sexo. Da forma mais discreta possível, dei uma espiada na moça - não ria, Você olharia, também - lá estava ela entre sussurros e pipocas. E assim foi por todo o filme.


Imagine agora a minha situação: assistindo aquele filme ao lado da sua filha e uma atendente de telessexo atrás em plena atividade.


Constrangimento é isso, aquelas situações para as quais Você pouco colaborou, porém acabou embaraçado. É a dor de barriga fora de hora, o copo que Você quebrou no jantar de cerimônia, a briga do casal amigo na sua frente.


Nos últimos dias, o jornal Zero Hora noticiou duas vezes o constrangimento do despreparado que ocupa a Presidência do Brasil. Na primeira vez, ele ficou constrangido pelas tenebrosas relações expostas na venda da Variglog; na segunda, já nesta semana, o causador do seu estado foi a operação do Exército num morro do Rio de Janeiro.


Este é o tipo de abordagem que só colabora para criar o "efeito tefal" que protege Lula. Quando emergem informações dando conta do envolvimento da sua ministra e pretensa sucessora, e de seu compadre e ex-provedor de moradia no nebuloso negócio da venda de uma empresa, ele está comprometido até o último fio de cabelo.


Da mesma forma, Lula, talvez não saiba disso, mas é o comandante das Forças Armadas; está na Constituição. Além disso, dois ministérios do seu Desgoverno são parceiros do Exército na operação, o que o responsabiliza totalmente pela operação.


Falar de constrangimento nestes casos é tratar aquele que deveria liderar um país como um inimputável silvícola, ainda que o texto das respectivas matérias amenize este tratamento.


Constrangida, nestes casos, fica a sociedade, que paga a conta.

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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