Comunica a ação
Eu estava começando a escrever alguma coisa a partir das notícias ditas mais "mundanas" publicadas esta semana para falar dos problemas recorrentes de comunicar …
Eu estava começando a escrever alguma coisa a partir das notícias ditas mais "mundanas" publicadas esta semana para falar dos problemas recorrentes de comunicar a ação, ou, parando de brincar com palavras, da comunicação. E fazia isto movida em especial pela foto do sempre belo Richard Gere quase deitado em cima da atriz bollywoodiana Shilpa Shetty sapecando beijos e mais beijos na moça, o que lhe valeu até ameaça de prisão, por um tribunal indiano, por ter cometido o que a tradição do país considerou ato obsceno público. Pobre Richard: já mais para tiozão do que para aquele gato que caminhava embalado
Também estavam na minha lista de assuntos o destempero do pai Alec Baldwin, que chamou a filha de porquinha e outros quetais por telefone e teve a xingação tornada pública, a carta da Globo à embaixada dos Emirados Árabes Unidos no Brasil se desculpando pelo quebra-quebra de objetos ligados à cultura árabe pela personagem central de A Diarista, o desmentido de uma produtora pornô à notícia de que a ex-bbb Íris havia sido convidada para estrelar (ó Deus) um filme de gemidos e suspiros, e mais um post da cantora Sheryl Crow, em seu blog, dizendo que uma atitude indispensável para solucionar o problema do aquecimento global era limitar o número de folhas de papel higiênico de cada um nas idas ao banheiro.
Este era meu cardápio. Mas resolvi ear um pouco por sites de fora do Brasil e encontrei no Le Monde, de Paris, um link para um blog sobre a China, em que a chamada principal era Je fume, ils fument (Eu fumo, eles fumam), comentando a decisão do governo chinês de proibir cigarro durante os jogos olímpicos, inclusive em lugares públicos. Logo abaixo, com o título Le Censeur Encensé Censuré (O Censor Incensado Censurado), aparece um artigo de uma vítima do tal censor incensado, o escritor chinês Yan Lianke, que se assina "um escritor vítima da censura".
Yan é autor de um romance,
O livro nunca pôde ser publicado na China por obra e graça de Mr Long Xinmin, que foi diretor-geral de imprensa e publicação chinês e o homem que botava os "subversivos" da escrita na lista negra. Dá para entender a raiva de Yan, que levou dez anos para escrever o relato de horrores dos abandonados à morte, vítimas do HIV, naquela cidade. Ele vem sendo sistematicamente censurado em sua terra.
Em suas tentativas de se livrar da perseguição do Departamento de Propaganda do Comitê Central do Partido Comunista, Yan redigiu dezenas de autocríticas do tipo "eu reconheço que não tenho suficientes qualidades literárias e artísticas, não compreendi bem a política militar chinesa e o Partido, não tenho noção da realidade".
Pois, agora, no blog do Le Monde, Yan manda bala. Diz ele: "O sítio China Hoje nos mostra que, no dia 3 de abril último, Mr. Long Xinmin, então diretor-geral de imprensa e publicação, foi condecorado com a Legião de Honra pelo embaixador da França. Maior responsável pela "boa escrita", é a Long Xinmin que se devem as publicações censuradas, os jornais fechados. Ele tinha sido motivo de comentários recentemente graças à interdição da publicação de 8 livros (que foi suspensa finalmente pelas autoridades). A esta entrega de medalha os chineses chamam "caresser le cul du cheval". Falta de sorte, a embaixada acariciou o cavalo errado. Long Xinmin, membro da ala conservadora do Partido, foi demitido de suas funções, terminando vítima de um expurgo em curso, por seu excesso de zelo. Na Embaixada, o embaraço é visível. Desde o surgimento do China Hoje, toda referência à entrega da medalha desapareceu do site da nossa representação".
A propósito: caresser le cul du cheval, traduzindo, brandamente, seria como "acariciar o traseiro do cavalo". Uma coisa muito em uso por estas bandas. Depois, ficam os registros das medalhas equivocadas. Não tem nem como apagar.