Como é ional o jornalista esportivo

      Quando Danrlei disse a Robinho – mas certamente pensando também em Diego – que, se continuasse com tal comportamento, um dia lhe quebrariam a …

      Quando Danrlei disse a Robinho - mas certamente pensando também em Diego - que, se continuasse com tal comportamento, um dia lhe quebrariam a perna, a imprensa nacional, principalmente a de São Paulo, transformou o goleiro do Grêmio em ícone do futebol truculento, porta-voz dos ressentidos com a genialidade de Diego e Robinho, os garotos de ouro da Vila Belmiro. Um conveniente exagero, que acabou constrangendo os jogadores do Grêmio na segunda partida das semifinais. Não foi por isso que o Grêmio caiu fora, e sim pela superioridade do adversário. No jogo em Santos o time gaúcho foi ridiculamente ruim e taticamente covarde, mas aí é outra história. De qualquer modo, Danrlei foi ingênuo, pois era óbvio que a frase seria muito bem usada. Se houve excesso de indignação por parte da mídia paulista, foi igualmente desproporcional a reação da mídia gaúcha. Danrlei falou mesmo, e não deveria ter falado. Além do mais, os revoltados integrantes da crônica esportiva do Rio Grande poderiam imaginar como reagiriam se a situação fosse invertida: digamos que o goleiro de um adversário dissesse a mesma coisa para Ronaldinho, quando ele começava a brilhar no Grêmio. A equipe visitante seria esperada com facões no Salgado Filho. Pior ainda é saber que certas figuras, que pelo jeito jamais serão desmascaradas em sua mediocridade, pois isso é proibido por aí, se aproveitam da polêmica para tentar desqualificar gente de talento indiscutível que até pode ter, como a maioria, se excedido ao opinar sobre o caso.
      Isso não significa que Danrlei não tenha uma boa dose de razão. Diego possui todas as virtudes para se converter na grande revelação do futebol brasileiro nos últimos anos, mas é arrogante, bobalhão e mal educado. Não sei como foi a repercussão deste episódio no Rio Grande do Sul, mas por aqui houve muito bate-boca quando ele comemorou um gol pulando sobre o escudo do São Paulo, no Morumbi. O são-paulino Fábio Simplício virou herói de sua torcida ao tentar bater em Diego. Tal polêmica ocorreu bem antes do jogo contra o Grêmio. Depois da partida com o Corinthians, no último domingo, Renato e Deivid queixaram-se dos maus modos do moleque, que debocha dos colegas a cada drible e chama os marcadores negros de "pretos" e "macacos". Ou seja, não se trata de uma cruzada contra o drible e a verdadeira arte do futebol brasileiro, como querem alguns. Somos todos a favor do talento, mas talento não concede ao portador o direito de fazer e dizer o que bem entende. O Milton Neves, grande conciliador e defensor do clube que revelou Pelé, induziu Renato a mandar um abraço para Diego e perdoá-lo, como havia feito com Fábio Simplício. Osmar de Oliveira, comentarista geralmente tão comedido, considerou inaceitável a atitude de Diego e disse que, de fato, se continuar assim, vão mesmo lhe quebrar a perna.
      A propósito, quem quase quebrou a perna de um colega no domingo foi Robinho, a outra "vítima inocente dos invejosos do futebol brasileiro". Num lance sem qualquer importância, com a bola já saindo pela lateral, ele deu uma entrada no tornozelo do atacante Deivid que poderia tirar o colega do futebol. Milton Neves, mais uma vez, foi generoso com o pequeno brilhante santista. "Foi sem querer, não vão pegar no pé do rapaz por isso". Não, Milton, quem pegou o pé de alguém foi o próprio Robinho. Mas, aparentemente, ele pode, como Diego pode ser mal educado. Ronaldo foi para a Seleção com 17 anos - nem vou falar no Pelé porque aí é covardia - e nunca deixou o deslumbramento lhe dominar. A simpatia e a humildade do goleador da Copa sempre ajudaram a formar um conjunto da obra que faz com que todo o planeta torça por seu sucesso. Diego e Robinho são bons, e todos desejamos ver o futebol brasileiro seguir este rumo, como todos condenamos a violência em qualquer situação, e isso inclui o futebol. Mas alguém precisa dar um pouco de educação aos meninos da Vila.
Dedicado a Danrlei
( [email protected])

Autor
 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

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