Coisas boas
Nas rodas as quais freqüento dois assuntos já foram abordados bastante vezes: o filme Vinicius, de Miguel Faria Jr., e o livro do Tom …
Nas rodas as quais freqüento dois assuntos já foram abordados bastante vezes: o filme Vinicius, de Miguel Faria Jr., e o livro do Tom Cardoso sobre o jornalista Tarso de Castro. No sítio do filme, onde se pede a opinião da gente, escrevi que o documentário provocou tantas emoções positivas que seria até uma desfeita fazer críticas negativas. Mas há uma nota tão distoante, sem trocadilho, que incomoda minha cuca. O incômodo é a interpretação dada por Olivia Byington para Modinha, com um gestual tão anacrônico que me fez lembrar as declamadoras Berta Singerman e Margarida Lopes de Almeida há 60 anos.
Não sou nenhum gênio e tenho certeza que a maioria dos espectadores percebeu que aquela interpretação estava "desfocada" do filme e da sua personagem título. Acho que o Miguel Faria também achou, mas é dureza, se foi o caso, de convidar alguém para um trabalho e, depois, não aproveitar esse trabalho. Se eu ainda fumasse, seria nessa hora que sairia um minuto para dar umas tragadinhas.
Quanto ao livro do Tom, os méritos são muitos, pois diferente de Miguel que conheceu Vinicius muito bem, Tom fez um "vôo por instrumentos" pois, além daquilo do que está documentado nos jornais e revistas, o perfil do jornalista foi traçado através de relatos, entrevistas e, enfim, pela memória "dos outros". Alguns pequenos tropeços cronológicos ados para o Tom são tropeços de gente que, hoje, acha que 1964 era 1963, ou vice-versa. Nada que diminua a importância do resgate feito no livro que entrega, à história de nossa imprensa, a herança mais substancial do trabalho do Tarso.
No livro Antonio"s, caleidoscópio de um bar, onde há um capítulo sobre o Tarso, escrevi:
"Em 1957, a convite de Antonio Abujamra, fui a Porto Alegria dirigir um espetáculo para o Teatro Universitário - demorei-me um pouco e fiquei 7 anos. Fausto Wolff e Tarso de Castro, então jovens e promissores jornalistas, foram uns dos meus primeiros amigos da imprensa gaúcha.
Do Tarso de Porto Alegre lembro-me de uma vez em que ele me convidou para almoçar e eu disse que só iria se ele não telefonasse. Criado o ime e, após demoradas negociações, fomos almoçar: Tarso poderia dar um telefonema antes e outro depois.
Lembro-me, também, estranhar muito que boa parte dos profissionais da imprensa gaúcha tivesse emprego público. Tarso era padioleiro de um serviço médico, o SAMDU.
No verão de 64, de férias no Rio, aluguei um apartamento de temporada, na Rua Figueiredo Magalhães. Por coincidência, Tarso morava no último andar. Tarso, que, com Paulo Schilling e José Silveira, fazia o Panfleto, chegava do jornal e tomava um uísque comigo antes de subir. Em seguida, veio o golpe, e lá estávamos nós, Tarso, Flávio Rangel, Paulo Francis e muitos outros, em São Paulo, esperando Cacá Diegues dizer "Dias melhores virão". Não vieram, mas Tarso, depois de deixar nosso amigo Haroldo, da imprensa cubana, em segurança no Uruguai, voltou para o Rio. Eu também resolvi mudar de cidade e continuamos a nos encontrar, principalmente no Antonio"s."
Nesse capítulo, editei trechos de artigos publicados por Tarso na imprensa. Numa reportagem sobre Antonio"s, na revista Status de outubro de 1978, ele escreveu:
"Uma vez, em fim de romance, eu e minha namorada estávamos fazendo a chamada divisão dos cinco objetos que tínhamos.
- Quem fica com o telefone? - perguntou ela.
- Pro meu trabalho? - insinuei.
- Então eu fico com o Antonio"s - respondeu ela. - Quando precisar telefono de lá.
Isso significava que o Antonio"s me seria proibido, já que tínhamos combinado evitar encontros desagradáveis. Resumindo: ela ficou com o telefone. E eu com o Antonio"s. Foi no Antonio"s que o ministro Nascimento e Silva, logo depois de empossado, quando ainda ava o esquema de segurança, despediu-se de todos os amigos e voltou uns minutos depois perguntando:
- Vocês não viram, por aí, minha guarda pessoal?
Tinha perdido."
Olívia Hime e o marido, Francis, em 1992, estiveram no lançamento do meu livro e, em 1969, eu havia ido ao casamento deles, no Outeiro da Glória. Tenho uma foto com o pai da noiva, Cícero Leuenroth, o dono da Standard Propaganda que, na época, era o maior faturamento de todas as agências que operavam no Brasil. Agora, a dica: Olívia, cantora, compositora e empresária da gravadora Biscoito Fino, já lançou o CD com todas as músicas e interpretações de Vinicius.
Inté.