Cidade da Ospa e do South Summit

Por Flávio Dutra

Peço vênia para tratar de dois destaques de excelência relacionados a Porto Alegre e que me deixaram entusiasmado nos últimos dias. O primeiro vai para uma instituição que, de certa forma, representa o melhor da nossa Cultura: a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre/Ospa.

"Eu venho de uma cidade que tem uma orquestra sinfônica", difundia Érico Veríssimo nas suas andanças pelo exterior. Já eu, por aqui mesmo, ei a me relacionar com a Ospa quando fui diretor da FM Cultura e depois da TVE, que transmitiam os concertos da sinfônica. É dessa época um episódio que só agora revelo, ainda com uma ponta de embaraço. Na abertura de um dos concertos, foi programado o tema do filme  Os brutos Também Amam (Shane), do compositor Victor Young, uma peça em que o naipe de metais predomina. O resultado, para ser generoso, ficou muito aquém do esperado, tanto assim que antes de a gravação ir ao ar na FM, recebi o pedido para que essa parte fosse suprimida. Os metais desafinaram constrangedoramente. 

Corta para os dias atuais e me vejo maravilhado com a atuação da orquestra no concerto Música de Cinema, apresentado no dia 30 de abril. Já tinha assistido na TVE à primeira edição dessa produção, mas a atual, que conferi no Youtube, recebeu um roteiro mais ampliado e uma produção caprichada na iluminação, no visual projetado no telão, perfeitamente sincronizado com a música, nos textos  e na ancoragem da apresentação de cada atração. E que atrações! A Ospa incursionou pelas trilhas de clássicos como O Poderoso Chefão, O Tempo e o Vento,  O Carteiro e o Poeta,  Guerra nas Estrelas, 007 - Sem Tempo Para Morrer,  Bastardos Inglórios, West Side Story e muito mais, celebrando, entre outros, Nino Rota, Alexandre Guerra, John Willians, Enio Morricone, Elton John e Leonard Berstein.  Vale registrar a participação do Coro Sinfônico da Ospa, assim como do Ballet Vera Bublitz, que valorizaram ainda mais a produção. 

Os metais respondem soberbamente quando exigidos, inclusive na apresentação atual do arranjo da rejeitada Shane de anos atrás. Opinião baseada no meu gosto de espectador entusiasmado e não de especialista.  Quem quiser dividir essas emoções, o Concerto Música de Cinema está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=3opSCUTzVjw&t=7s

O que mudou Ospa, além de ganhar sua nova e definitiva casa no Centro istrativo, é que um concurso público agregou à orquestra novos instrumentistas, revigorando o grupo com talento e energia. Planejamento, comprometimento e muito ensaio fizeram o resto.

Planejamento, comprometimento e a soma dos esforços do poder público e da iniciativa privada trouxeram à Porto Alegre o evento que movimentou o velho Cais Mauá durante três dias na semana ada, reuniu cerca de 500 investidores, 8,5 mil representantes de empresas, 3,3 mil startups e atraiu mais de 20 mil visitantes de 50 países. Números que atestam o acerto de bancar a feira. O South Summit veio de Madri para ficar, confirmando a vocação da Capital e do Estado para a inovação e o empreendedorismo. 

Observem que evito fulanizar responsáveis pela ótima fase da Ospa e pelo o sucesso do South Summit e poderia fazê-lo, uma vez que conheço bem o trabalho de todos.   Prefiro valorizar o empenho do conjunto, resultado  das entregas de  cada um dos envolvidos, como se requer de uma orquestra afinada ou para por em pé um evento de magnitude internacional. 

Agora, até poderemos acrescentar nas andanças lá fora, com justificado orgulho: sou da cidade da Ospa e do South Summit. Mesmo diante dos narizes torcidos, que sempre surgem para qualquer iniciativa bem sucedida que coloque Porto Alegre num outro patamar de desenvolvimento. Não arão. Porto Alegre é maior do que os caranguejos de sempre.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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