Chutando o Balde II

Voilà! A primeira coluna de 2009! Não fiz a lista aquela famosa de projetos para o novo ano. Não deu muito tempo, já que …

Voilà! A primeira coluna de 2009!


Não fiz a lista aquela famosa de projetos para o novo ano. Não deu muito tempo, já que dia 31 estávamos tentando nos recuperar do susto do dia 24, mas o telefone tocou e, como presente de final de ano, veio a notícia do infarto de minha amadíssima tia Bina, irmã de meu pai.


Ah, o susto do dia 24! Coisa pouca, só para dar um ar de, quem sabe, originalidade ao Natal: minha mãe ficou até às oito da noite no Cruz Azul sendo monitorada. Entrou com pressão de 27 por 11, náusea, tontura, descobriu uma lesão no coração que desconhecíamos todos. Mas, comemoramos o Natal. Êta família teimosa!


Por isso tudo, não tive muito tempo nem saco para aquelas tradicionais coisinhas do Ano Novo, tipo fazer um amuleto da sorte com sementes e plantas especiais para atrair bons fluídos, ou ir à praia pular as sete ondinhas, ou levar flores para Iemanjá. Ficamos no básico: lentilhas, uvas, carne de porco. Tudo cedo, porque com convivas de 80 anos não dá pra dançar rock à meia-noite!


Sim. Estou um pouco mais irônica e amarga que de costume.


Dizem que a crise está rondando, então vou usar minhas armaduras, pelo menos as verbais, escritas e faladas.


Aliás, estou pensando seriamente em lançar nova versão do meu livro Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos. O que não me falta é material e editora interessada tem. Na real, falta vontade de dar forma a tanta insanidade que a gente vai assistindo, na família e fora dela, no trabalho, nas relações de vizinhança etc etc etc.


Nestes dias de entrada de ano, me dediquei, sim, a dar uma ajeitada em alguma papelada que urrava por organização. Quando enjoei, voltei ao computador e, como sempre faço, busquei material meu que anda pela internet para fazer o que não fiz com o que está impresso - juntar e guardar em pastas. E voltei a encontrar coisas que escrevi no tempo de Osaiti, do meu para sempre saudoso Paulo Acosta. Infelizmente, algumas crônicas se perderam, o não arquivou e a desorganizada aqui também não.


Mas é um exercício engraçado reler coisas de cinco, seis anos atrás. Algumas parecem que foram escritas hoje de manhã, porque há tanta coisa que não muda. Outras, melhor nunca ter escrito.


De qualquer forma, ser cheio de defeitos é bom. Os muito certinhos que me perdoem, mas ser incoerente é fundamental. É o que faz a gente se olhar, se rever. Se criticar. Pobre de quem não se critica e só fica olhando o que os outros fazem e apontando: "Olha só o que ela escreveu! Que barbaridade!", com aquele ar de sabedoria que não engana ninguém e só faz a turma em volta revirar os olhos de pena e cansaço.


Aliás, este é o meu único projeto pra 2009: não dar mole para gente chata, como o que instala seu gordo traseiro numa pobre cadeira, ergue a perna sobre a mesa, cochila diante da tela do computador e acorda só pra apontar erro alheio. Este tipo de gente, me afirmou um pai de santo de confiança (sim, existe), vai ter final trágico em 2009: vai se engasgar não com suas críticas mas com sua falsa cordialidade.


Então? Tá ou não tá quase pronto o Chutando o Balde II?  Este aí pode ser um dos temas. 

Autor

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maristela Bairros já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini. É autora de dois livros: Paris para Quem Não Fala Francês e Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos, ambos editados pela Artes & Ofícios.

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