Cenários
Em análises da corrida à presidência da República realizadas agora, seis meses antes da eleição, os percentuais dos candidatos nas pesquisas importam menos do …
Em análises da corrida à presidência da República realizadas agora, seis meses antes da eleição, os percentuais dos candidatos nas pesquisas importam menos do que a projeção dos cenários. A escolha de um pré-candidato por determinado partido, a promessa de aliança por parte de outro permitem exercitar alguns raciocínios.
A escolha de Geraldo Alckmin em vez de José Serra pelo PSDB pode ter sido determinada mais por acomodações internas do que por convicção, mas não representa necessariamente a aposta no candidato mais fraco. Alckmin tem muitos pontos percentuais a menos, mas, em compensação, exibe níveis de rejeição bem menores. Na briga pelo governo paulista, em 2002, saiu lá debaixo, enquanto Maluf era apontado como possível vencedor no primeiro turno. No final, Maluf virou traço e Alckmin se elegeu. Ele é pouco conhecido no resto do Brasil, mas tem prestígio em São Paulo, colégio eleitoral cujo gigantismo é capaz de determinar os rumos de uma disputa.
O candidato tucano conseguiu não apenas colocar as contas do Estado em dia como ter dinheiro em caixa para investimentos. Pagando à vista, obteve preços menores. Também criou uma central de compras unificadas, para negociar melhor com os fornecedores, entre outras medidas. É o que está na moda chamar de "choque de gestão", e que o também tucano Aécio Neves aplicou em Minas Gerais. Alckmin pode ter cara de picolé de chuchu, mas também a a idéia de honestidade. Considerando-se os últimos episódios da política nacional, tal atributo deve pesar.
Mas Alckmin não vai bater em Lula, não é de seu perfil de homem sensato, de fala mansa. Com isso, perde um trunfo, pois as possibilidades são amplas, mas ganha outro: o da serenidade. Ficar fora da contenda explícita elegeu Germano Rigotto no Rio Grande do Sul. O povo está cansado de político gritão, espalhafatoso, acusador, salvador da honra da pátria. Com o perdão do anglicismo, o low profile é fashion.
Para Lula, Garotinho é pior negócio que Rigotto. O ex-governador do Rio não vai se eleger, não vai para o segundo turno, está ali para fazer número, mas vai azucrinar Lula, vai bater com a desenvoltura somente permitida a franco-atiradores, como já o foi o PT. Terá o apoio de Heloísa Helena, que baterá em todos, e quem sabe do Freire. Como o PFL vai apoiar o PSDB, ficam todos livres das sandices de César Maia. Até pelo comportamento de Garotinho seria melhor para o governo o PMDB não ter candidato próprio. Mas, se tiver, seria melhor para o governo que fosse o Rigotto, potencial tirador de votos de Alckmin.
No cenário com Lula, Alckmin e Garotinho, o presidente terá um embate verbal mais duro com Garotinho, mas é Alckmin - que deverá se apresentar como Geraldo, mais popular e menos pomposo que o sobrenome - quem tem possibilidade de crescer muito. Pela ficha limpa, pela cara de bom moço, pela voz que nunca se eleva e pelo trabalho feito em São Paulo. Tem mais potencial do que possa parecer.