Celebrações

Amiga e amigo irmãos são aqueles para quem a gente diz boa noite e, 10 anos depois, reata a conversa como se aquela noite …

Amiga e amigo irmãos são aqueles para quem a gente diz boa noite e, 10 anos depois, reata a conversa como se aquela noite tivesse sido na véspera.


Em Sampa, minha primeira sobrinha Marta Farah levou-me à casa do amigo-irmão a quem ela só conhecia de ouvido.


Desde outubro de 2005, Cyro Del Nero escreve e apresenta diariamente o programa "Celebração do Dia" na Rádio Cultura FM de São Paulo, às 8 horas e às 17 horas.


Durante um minuto e meio a dois minutos, ele narra um fato que puxa outro, terminando por celebrar um dia que vale a pena ser lembrado. A audiência do programa tem a oportunidade de ouvir dele um fato histórico, um gesto, uma palavra que marcou uma data. Marta é sua ouvinte.


Cyro já escreveu, por exemplo, sobre 15 de dezembro, a data de hoje, a respeito de instrumentos que acabaram sendo apresentados em concertos solos: "? com as Seis Suites para Cello Desacompanhado, de Bach, o violoncelo sobe aos palcos como uma atração solo nas mãos de Pablo Casals?"


Para a data de amanhã, dia 16, os ouvintes de 2006 foram brindados com esse texto que nos remete ao primeiro século da era cristã: "O romano e escritor enciclopédico Plínio, o Velho, datou com sua morte o ano da primeira erupção do Vesúvio, em 79 DC. Essa erupção cobriu Pompéia e Herculanum. A "História Natural" de Plínio é uma obra que tem trinta e sete volumes que narram 20 mil fatos. Mas sobre ele o fato mais curioso e mais lembrado é ter morrido durante a erupção do Vesúvio. Mas houve outras erupções, o Vesúvio nunca se extinguiu. E podemos dizer que a ferocidade piroplástica, que matou a população das duas cidades romanas, contribuiu muito para a arqueologia e o estudo daquela sociedade. Hoje, Pompéia e Herculanum são museus a céu aberto. São cultura e alimento da cultura. As casas dos patrícios romanos criadas para o lazer mediterrâneo e o seu fastio, seus murais que descrevem hábitos e retratam seus deuses e heróis, seus banhos térmicos, as adegas com os Kraters, as hidrias e os cântaros para a água e o vinho, as inscrições nas ruas, seu calçamento com guias para as rodas das carroças, tudo isso se transformou em memória petrificada. Graças à erupção do Vesúvio. Entretanto, para nossa fantasia e divagação há uma coincidência histórica na qual podemos encontrar significado. A data da segunda erupção do Vesúvio coincide com a data do nascimento de Beethoven, 139 anos depois, em 1770, no mesmo dia, 16 de dezembro".


Quando levei o amigo-irmão Flávio Rangel para o convívio com os amigos freqüentadores da Biblioteca Municipal de São Paulo - hoje Mário de Andrade -, já pertenciam à depois conhecida como "turma da estátua" Antunes Filho, Bento Prado Jr., Carlos Henrique Escobar, Celso Paulini, Fabio Sabag, Hélio Leite de Barros, Manoel Carlos, Maurício Tragtenberg, Mauro Rubens de Barros, Pedro Morato, Roberto Pavesi, Ruth Escobar e outros.


Cyro foi para a Grécia, estudou e trabalhou com Cenografia na Alemanha e, anos depois, de volta para o Brasil, além da Cenografia, diversificou-se na arquitetura promocional, design e ainda realizou trabalhos internacionais como o pavilhão do Brasil na feira de Osaka, no Louvre e na cidade de Lyon, na França.


Cyro é hoje professor titular da pós-graduação do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - USP. Já publicou Com ou Sem a Folha da Parreira, Cenografia - Uma Breve Visita, Com a Grécia na Mochila, Máquinas para os Deuses e os textos de A Celebração do Dia que foram para o ar no ano de 2006.


Século ado, no Rio, Cyro e eu estivemos associados e dirigimos duas empresas de design e arquitetura promocional.


Quando, em 1977, Cyro resolveu voltar para São Paulo, fui para a Globo, onde implantei a Agência da Casa.


Cyro del Nero e eu, de há muito, celebramos nossa fraternidade. Somos amigos-irmãos.


Inté.


Celebração natalina:


Júlia, a neta, 8 anos, para atender ao pai que pediu como presente de Natal 50 beijos, fez no meu computador uma caderneta para ele rubricar do 1º ao 50º beijo recebido.

Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

Comments