Carta a Papai Patinhas
Toda a criança que habita em nós (sim, não negue), nesta época do ano fica muito a fim de escrever uma cartinha para Papai …
Toda a criança que habita em nós (sim, não negue), nesta época do ano fica muito a fim de escrever uma cartinha para Papai Noel. Mesmo os mais céticos sentem este impulso inexplicável que faz com que, mesmo rindo debochado daquele tio chato que se veste de vermelho com barba e cabelo de nylon barato, tenha uma superíntima vontade de correr para os braços do bom velhinho.
Mas Papai Noel, aquele que trazia um presentinho para todos - "seja rico, seja pobre, o velhinho sempre tem", diz a música -, nos últimos anos vem lutando bravamente para não se sentir superado. A indústria do lazer, como se sabe, se supera mensalmente e haja saco para enfiar as últimas maravilhas que o Vale do Silício inventa, com uma mãozinha dos japoneses, claro.
Por isso, eu decidi que, em vez de escrever para Santa Claus, Père Noel ou seja como se chame em qualquer língua, vou escrever para o cara que a Forbes elegeu como o mais rico de todos. Na ficção. Ninguém menos que o mal-humorado, usurário, insensível e solitário Tio Patinhas.
Como todos sabem, esta seriíssima publicação fez sua listinha dos mais bem-sucedidos personagens da ficção. Tio Patinhas é imbatível, com seus 28,8 milhões de dólares. E olhe que tudo começou na Escócia, quando ganhou aquela moedinha, batizada de Número Um, que ele trouxe para a América - ó, terra dos sonhos! - e, com ela, ergueu o império que todos conhecem. (PS: qualquer semelhança com alguns self-made-men é pura coincidência.)
Então, já que este pato velho está podendo, é a ele que encaminho os pedidos de mimos que quero ter embaixo de minha árvore de
Não são muitos. E todos têm a ver com o mundo da comunicação.
Pedido um: que caia dos céus um raio de bom senso e mostre a Hélio Costa e companhia que a TV Lula é pateticamente desnecessária e só vai consumir nosso precioso tempo em pular o canal no controle remoto.
Pedido dois: que a Globo pare de insistir com suas comédias chatas, especialmente assinadas pelo casal Fernanda Young e estreladas (?) por Miguel Falabella e trate de rever o original de A Grande Família para tentar melhorar este programa.
Pedido três: que nosso estimado e grande jornalista Valdir Zwetsch tenha mais voz ativa na Record News e faça com que este canal se torne um referencial de bom jornalismo, como se espera.
Pedido quatro: que os proprietários de mídias, grandes ou pequenas, entendam de uma vez por todas que jornalista não é aquele cara que vive de brisa e que se vira com mil pilas por mês, que para ter leitores qualificados este mesmo jornalista precisa se qualificar (não vale apadrinhados que dão trabalho ao editor até nas vírgulas) e que boas matérias exigem tempo, dedicação e justa exposição, em vez de cortar no pé quando não cabe porque entrou aquele anúncio de última hora.
Pedido cinco: que os jornalistas esqueçam o vício tentador de recortar releases e colar direto no espaço diagramado, que mudem ao menos o texto se não quiserem se dar o trabalho de enriquecer a pauta, e que não se vendam por qualquer tostão furado com a desculpa miserável de "eu preciso estar no mercado" ou "pelo menos tenho uma vitrina".
E, por último, que a ética, a decência, a honestidade, o sentido do bem comum pautem de vez os noticiários, os programas de entrevista, os especiais, enfim, todo o produto midiático que, sem pedir licença, entra na casa das pessoas. E que estas pessoas, compradoras deste produto, aprendam a exigir o melhor, deixando de se iludir com coisas mal-feitas e mal-intencionadas.