Camelos e quero-queros

A primeira coisa que me perguntaram, quando comecei a apresentar o Brasil na Madrugada, na Rádio Gaúcha, foi: como se conhece a fêmea do quero-quero? …

A primeira coisa que me perguntaram, quando comecei a apresentar o Brasil na Madrugada, na Rádio Gaúcha, foi: como se conhece a fêmea do quero-quero? Nunca consegui descobrir. Já perguntei a meio mundo. Palpite não tem faltado. Resposta concreta, no duro, jamais.


Por que não me perguntaram a diferença entre jacarés e crocodilos? Esta eu sei por ter lido no Almanaque do Biotônico Fontoura. Crocodilos têm o focinho mais estreito e comprido. Quando fecham a boca, aquele quarto dentão de cada lado fica de fora, metendo medo em todo o mundo. Jacaré é mais discreto.


Sei também a diferença entre camelos e dromedários. O camelo tem duas corcovas, o dromedário parece só ter uma porque a segunda se atrofiou. Sei até mais: ao tempo do império, alguém inventou a importação de camelos para resolver o problema da seca no Nordeste? Típica idéia de jumento. Os animais foram comprados em Paris pela Sociedade Imperial da Alienação (esse negócio de ongs é antigo!?) e chegaram em Fortaleza em 23 de julho de 1859.


Eram quatorze animais, quatro machos, dez fêmeas. Quando desembarcaram, todo mundo começou a rir. Em lugar de camelos, tinham vindo dromedários. Ninguém sabia a diferença. Uns achavam que a corcova faltante era defeito de fabricação. Outros, que tinha sido furtada pelo caminho, para ser vendida no "camelódromo". A bicharada nem chegou a dar cria. Em poucos meses, morreu tudo.


Agora, como se identifica a fêmea do quero-quero, tenham paciência. Não consigo descobrir. Depois de tanto palpite furado, acho que só perguntando ao macho. Por ser o maior interessado no assunto, deve ser o único a saber a diferença.

Autor

Jayme Copstein é jornalista, com atividade em jornal e rádio desde 1943,com agens pelos principais veículos de Porto Alegre. Trabalhou 22 anos no Grupo RBS como apresentador de programas e comentarista de opinião da Rádio Gaúcha, e atualmente é colunista do jornal O Sul e apresentador do programa 'Paredão', na Rádio Pampa. Detentor de vários prêmios, entre eles, Medalha de Prata (2º lugar) no Festival Internacional do Rádio de Nova York (1995), em 1997 publicou "Notas Curiosas da Espécie Humana" (AGE). Seu livro mais recente é "A Ópera dos vivos", editado em janeiro de 2008.

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