Bugigangas de ocasião

Qual, afinal, a verdadeira causa das rebeliões nos presídios? Vai ver é porque os presos temem que as condições lá dentro fiquem iguais às …






















Qual, afinal, a verdadeira causa das rebeliões nos presídios? Vai ver é porque
os presos temem que as condições lá dentro fiquem iguais às aqui de fora.

Pelo elevado poder de fogo dos aparelhinhos, não duvido que nos presídios
já estejam usando celulares de uso exclusivo das forças armadas.


Quando a lei de Talião e a do Talão de Cheque se encontram, os cadáveres
se acumulam.


Ou as companhias telefônicas não querem abrir mão do faturamento nas
cadeias ou a tecnologia da telefonia evoluiu de tal jeito que não tem mais jeito.


Os analistas sociais ainda não chegaram a nenhuma conclusão sobre a atual situação brasileira. De debaixo da cama a visão é limitada.


Nem mero vandalismo nem puro terrorismo. Queimar ônibus é o inconsciente coletivo atuando na via pública.


Diferenças entre governantes: autoritarismo é usar força para impor sua vontade; autoridade é utilizar reforços para manter sua apatia.


No Brasil, insegurança e injustiça social sempre andaram lado a lado.
Agora esses fatores de risco andam desabalados.


Suspeito que a matança de suspeitos vai acabar sem matadores suspeitos.

Rir. O melhor do gene.

Foi uma longa pesquisa. Algo entre as décadas recentes e os últimos cinco mil anos. Este relatório, válido enquanto outro relatório não vem, sintetiza o que é possível saber da espécie gauchus desenhisticae. Hein? Nada disso, leitor. Híbrido é você, que curte todas as formas de humor.


Os traços do humor gaúcho - isso que muitas vezes nem traços de humor contém - já (re)descobertos em outras eras, podem agora ser reavaliados em mais uma etapa de um levantamento gradual do que seria a graça pampeana. Genoma esse que se examina risivelmente, pois a espécie pesquisada tem um traço genético incomum: desenha para ser acreditada que existe. Sua sigla, nem biológica é: quer dizer, simplesmente, Desenhistas Naturalmente Associados.


Esta amostra em suas mãos é a mais atualizada e abrangente já feita para um futuro mapeamento do DNA do gênero. Desta vez, em abordagem inédita, o estudo se detém nas cinco principais subespécies do animal que desenha, encontrável em todo o Rio Grande do Sul.


Para fins de determinação das características, os 32 espécimes selecionados cederam, voluntariamente, rico material genético - charges, cartuns, caricaturas, quadrinhos, ilustrações. Por análise, se chegou a iráveis conclusões: surpreendentes algumas, engraçadas outras, interessantes todas. Calma. A introdução científica é curta, logo você vai se divertir com o bicho desenhador. Quem sabe até o adote como de estimação.


A fauna desenhista gaúcha apresenta indivíduos que, de tão talentosos na expressão, podem pertencer a mais de uma das classes em que se expõem. Pela plumagem ou pelagem que exibem, assim se destacam: chargistas, que ao desenhar opinam sobre fatos reais; cartunistas, que desenham idéias atemporais, compreensíveis em qualquer lugar ou época; caricaturistas, que redesenham a face humana; quadrinistas, que desenham histórias seqüenciais, desde tiras até gibis inteiros; e ilustradores, que desenham imagens para qualificar textos.


Como se pode aferir na amostragem, os machos preponderam. Não há, contudo, preponderância de machismo. Aliás, desenhistas de humor e adjacências são animais bem estranhos: seus ascendentes pouco têm a ver com as artes gráficas. Talvez seu tronco ancestral tenha começado com primitivos rabiscadores em cavernas. Só mudou o e. Enfim, seres produzidos pelos acasos da evolução, em saltos genéticos. Quando um desses bichos tem um filhote de igual natureza, há regozijo no bando.


Quanto à reprodução (gráfica, bem entendido), essa ocorre quando conseguem superar as deficiências do habitat natural - um mercado que valorize talentos. Em tal condição, põem ovos em ninhos precários, feitos de favor editorial, sem vínculo empregatício, sob aviltamento salarial, mau tempo nas redações, entre outros ambientes desfavoráveis. Pacientemente, por meses ou anos a fio, podem chocar idéias, que acabam mesmo chocas. Podem parir embriões criativos em espaços adversos, que sucumbem na pré-gestação, sem poder sobreviver aos riscos, sem trocadilhos. Muito comum o aborto de projetos.


Para ganhar forças, formam grupos, amadores ou profissionais, que se mantêm esparsos, aos uivos e pios aqui, urros e trinados ali. Com linguagens tão variadas, nem sempre as manifestações são continuas e duradouras. Este amplo catálogo da espécie, tão distante dos anteriores, comprova a tese.


Solitários ou em bando, os desenhistas am suas vidas a espreitar a vida. Vivem caçando idéias, e se alimentam mais de promessas editoriais que de espaços reais a preencher. Dotados de esperançosas asas, sobrevoam sem cessar todas as áreas da mídia. Visão aguçada, percepção altamente desenvolvida, desde o alto farejam oportunidades para pousar e nidificar. Jornais, revistas, livros, publicações, cartazes, panfletos, internet, tudo os atrai. Vôos em vão.


Mas, quando o mercado menos espera, nhac! Cercam e atacam a realidade. Nas ocasiões propícias, se atiram e abocanham tudo ao alcance. Sozinho ou em grupo, o desenhista faminto devora prazos, cumpre tarefas, estraçalha pautas. E conforme o dia a dia na jângal, usa instinto feroz em charges incisivas, joga graça em divertidos cartuns, recorre ao dom inato nas caricaturas, coloca fabulosa imaginação em HQ e aplica inspiradas sacadas nas ilustrações.


Desse festim, diabólico às vezes, irônico noutras, resulta o equilíbrio do ecossistema: ora essas feras têm suculentas páginas à disposição, ora ruminam glórias do ado, ora catam sobras do mercado. E assim vão vivendo de humor, ou coisa parecida.


Unidos pela ideologia e mesmo afastados pela geografia, os desenhistas não desistem de mostrar os traços da fúria criadora - não aceitam ivamente a extinção da espécie. Demarcam território sem recorrer a secreções renais (esguicham nanquim, guache e aquarela) e nas superfícies de celulose e em telas de computador deixam rastros de grafite, esferográficas, giz de cera, lápis de cor, crayon e pantones.


Em paredes expositivas, se pavoneiam com técnicas e estilos atraentes. Em salões e concursos, liberam a voracidade que os identifica exemplarmente: com garras Gillot treinadas pela sobrevivência artística, abatem falsas aparências e derrubam conceitos. A maioria morde a realidade, alguns apenas a arranham ou a lambem; outros rasgam nacos da atualidade e mastigam notícias sem se importar com o gosto ruim; muitos engolem fatos inteiros, dilaceram o pessimismo; e, ao final do repasto - indigesto ou não - todos regurgitam planos.


Assim é, observado através dos seus brilhantes porém nem sempre evidentes vestígios nos pampas, o nosso animal que desenha. Neste zôo em que vivemos, chamado Brasil, é bom prevenir: não se meta com o insaciável apetite dos desenhistas. Pois uma coisa é, mais que certa, certeira: o que vier eles traçam.











De novo. Eles conseguiram: se reuniram e lançaram outra antologia de humor gaúcho. Vá conferir na sempre culta e ativa Palavraria, sábado, 20/05, às 18:30h, Vasco da Gama, 165. Olha eles:


Alisson Affonso, Bendati, Bier, Byrata, Cristiano Ribeiro, Donga, Edu, Eugênio Neves, Gabriel Renner, Gelson Mallorca, Gilmar Fraga, Guazzelli, Hals, Juska, Kayser, Koostella, Lancast, Mota, Leandro Dóro, Lila Mota, Luciano Canteiro, Mateus Figueiró, Máucio, Max Ziemer, Moa, Pedro Alice, Ricardo Machado, Rodinério, Ronaldo Cunha Dias, Schröder, Tacho, Tatiana Tesch, Wagner os


 


Desgovernado de tanto rir.


E falando em livro, o meu amigo Nani vem mais uma vez pras estantes com uma coletânea cartuns, engraçadíssimas porradas no governo que taí. O título é Foi Mal e o lançamento já está se espalhando por esse Brasil agitado desses dias. Mas tudo indica que é só uma coincidência de época e país. O Nani é um dos mais resistentes cartunistas brasileiros, e não só pelo traço e troça. Por isso sempre tão irado. Sucesso, meu nego!




A Zit editora e a livraria da Travessa convidam para o lançamento do livro Foi Mal, do cartunista Nani.
Dia: 25 de maio de 2006
Horário: a partir das 20 horas
Local: Livraria da Travessa
Rua Visconde de Pirajá, 572 - Ipanema
Tel.: 3205-9002

Hoje mais alguns ambigramas, aquelas coisas visuais que só fazem sentido se
você se descondicionar. As primeiras peças são de Homero um artista chileno,
de apenas 25 anos, que nasceu pra fazer ambigramas. Primeiro ele criou esse belíssimo The end. Inspirado por ele, fiz um Fin, que ele finalizou no computador para mim. E em seguida ele próprio fez seu Fin. Isso não vai ter fim! E quem quiser tentar os seus, com quaisquer palavras, que mande.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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