Bugigangas da época

Todo ano que chega é sempre novo. Só os usuários não mudam. *Aposentados mal-pagos, tristonhos, cansados e suarentos em suasarremedadas roupas natalinas nas portas …

























Todo ano que chega é sempre novo. Só os usuários não mudam.


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Aposentados mal-pagos, tristonhos, cansados e suarentos em suas
arremedadas roupas natalinas nas portas do comércio da cidade.
E vocês querem que a criançada ainda acredite em Papai Noel?



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Ouro, incenso e mirra. Pô, nunca os desejos e as necessidades
de um recém-nascido foram tão mal-interpretados!



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"Onde houver desespero, que eu leve cartões de crédito."



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Não esqueça das oferendas jogadas ao mar.
É a única forma de poluição com a bênção dos deuses.



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Amigo-secreto é algo pra se guardar no lado direito da lista
de sugestões de presentes.



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O peru morre na véspera. Mas o seu funeral se prolonga
por mais uns três almoços.



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Repare nos xópingues: tem sempre mais vacas de presépio
irando o próprio que nele.



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A ceia de natal é uma ocasião idealizada: faz de conta
que o cardápio é ótimo, os presentes muito bons,
os votos bem sinceros e os parentes todos queridíssimos.



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Cuidado com estrelas percorrendo o céu. A última que caiu
na Terra dizimou os dinossauros.



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Os rituais cristãos devem ser respeitados nesta época.
Finja que a indiferença acabou que eu finjo que ela nunca existiu.



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Adoro o simbolismo da manjedoura. Nos lembra que só
em berçários existe infecção hospitalar.



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Aquele guri com uma faixa do ano que vem e aquele velho
com uma ampulheta deviam parar de se encontrar assim.
Deviam trocar de órios, só pra confundir a platéia.



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Onde vai parar essa enorme multidão que segue preceitos
carismáticos que têm mais de 2000 anos? No caixa.



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Fogos e hinos encantam as pessoas nas efemérides de fim-de-ano.
Cegos e surdos não sabem o que estão ganhando.



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A árvore de natal - natural ou artificial - é a planta mais transgênica de todas.



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Depois das lojas 1,99, não são os objetos que são embrulhados.
São os presenteados.



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Se nesta data a humanidade deseja o melhor para si
e para o planeta, por quê ainda aceita os brindes das
indústrias bélica, petroquímica e madeireira?



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Tenha fé nos valores pacíficos. Geralmente os assaltantes
não machucam a quem não reage.

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Etc.


Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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