Brasileirinha

Enquanto o ministro Tarso Genro naufraga na retórica ao defender o que parece ser o único problema da educação brasileira, as cotas para negros …

Enquanto o ministro Tarso Genro naufraga na retórica ao defender o que

parece ser o único problema da educação brasileira, as

cotas para negros em universidades, Daiane dos Santos dispensa favorecimentos

populistas e absurdos ao brilhar nos tatames do mundo. A apresentação

ao som de Brasileirinho foi uma das cenas mais lindas e emocionantes já

registradas na ginástica. Misto de esporte e dança, com um quê

de circo, a ginástica tem enternecido o planeta em especial desde o fenômeno

Nadia Comaneci, nos anos 70. Mas brasileira, e negra, dá um sabor especial.

Daiane tem 21 anos, mas parece ter 14. Aparenta não ser tão magra

quanto o desejável na modalidade, mas exibe a leveza dos virtuoses. Nasceu

no sul do Brasil, mas comporta-se como cidadã do mundo, capaz de amealhar

vitórias em todos os sotaques. Cresceu pobre, mas dinheiro algum paga

a graciosidade de seus movimentos ou a pureza de seu sorriso. Ela é do

bem, está na cara. Não fatura como os astros do futebol, mas se

empenha muito mais e não dá bola fora.
A gente é capaz até de agüentar a trilha sonora óbvia,

a música Pérola Negra, do veterano sambista Luiz Melodia, utilizada

à exaustão pelos criativos profissionais de TV, só para

vê-la em ação mais uma vez. Daiane faz pose, e que pose,

para ganhar o 10, mas não quando se dirige ao público por meio

de entrevistas. Nem parece que aquela garotinha é um dos maiores fenômenos

do esporte mundial. Parece mais que acabou da sair da escola e que sua única

preocupação é o tema de matemática para segunda-feira.
E a gente se desgasta torcendo por rapazes endinheirados e arrogantes, cuja

soberba, salvo honrosas exceções, costuma ser maior que o talento.

Claro, futebol está no nosso sangue. Mas precisamos de mais Daianes e

menos Diegos.






E

CRISTO FOI ENFORCADO OUTRA VEZ?

Depois

de a Folha de S.Paulo ter publicado o erro mais ridículo do jornalismo

mundial ao enforcar Jesus Cristo num texto, anos atrás (e, pior,

dar errata no dia seguinte: "Ao contrário do que a Folha

informou ontem?"), pensei que tal equívoco jamais fosse

se repetir. No último domingo, no Fantástico, Luana Piovani,

"repórter por um dia" (ainda bem) tornou a colocar

a corda no pescoço do filho de Deus. Em reportagem sobre a encenação

da Paixão de Cristo realizada todos os anos (tanto a encenação

quanto a reportagem) em Nova Jerusalém, Luana perguntou a um entrevistado

como a produção fazia para manter o clima "até

a hora do enforcamento". Deve ser pecado. E dos brabos.

 




Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor,

autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha e Dona Deusa e seus

arredores escandalosos e da ficção juvenil Elyakan e a Desordem

dos Sete Mundos. É Diretor de Redação da revista Forbes

Brasil e escreve semanalmente neste site.

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Autor
 Eliziário Goulart Rocha é jornalista e escritor, autor dos romances Silêncio no Bordel de Tia Chininha, Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos e da ficção juvenil Eliakan e a Desordem dos Sete Mundos.

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