Bobsled, foco e competitividade

Doping, exotismo e desempenho pífio marcaram a agem brasileira pelas Olimpíadas de Inverno, realizadas em Turim e encerradas na semana que ou. Emblemática, no …

Doping, exotismo e desempenho pífio marcaram a agem brasileira pelas Olimpíadas de Inverno, realizadas em Turim e encerradas na semana que ou.


Emblemática, no entanto, em nossa participação, foi a equipe de bobsled, aquele carrinho com quatro participantes que desce a montanha em um trajeto estabelecido. Nossa talentosa equipe capotou o trenó em treinos e provas, demonstrando total inaptidão à competição.


Na Sportv fiquei sabendo que o fiasco ocorreu devido à incapacidade dos atletas brasileiros para executar minimamente as rotinas de partida, não conseguindo obter a aceleração que assegurasse a estabilidade do trenó nas curvas. Não bastasse o desempenho sofrível, alguns dos ineptos atletas ainda apresentaram atitude festiva após a folclórica participação: qual adolescentes que acabaram de sair de uma montanha russa em um parque de diversões, riam e dançavam, tratando o fracasso como proeza.


O vexame da equipe brasileira, no entanto, foi apoiado com recursos públicos e ilustra a nossa falta de foco enquanto País, seja nos esportes, seja na atividade econômica.


istrar é gerenciar a escassez. País pobre tem que identificar suas vocações, as óbvias e as íveis de desenvolvimento, e nelas investir. Nos esportes temos o vôlei,o judô e o futebol altamente competitivos, um basquete qualificado, uma elite de velejadores que nos coloca sempre como candidatos e recentemente descobrimos que, com bem dirigidos investimentos,  a ginástica pode levar-nos a interessantes resultados.


O atletismo e a natação, ainda que não sejam esportes nos quais tenhamos grande destaque, devem receber investimentos não só do ponto de vista de formação de atletas de ponta, mas também sob a ótica da educação e da saúde.


Como não sou especialista em esportes, meu objetivo aqui não é apontar, de maneira definitiva, onde deve o País investir.


Evidentemente, há outras modalidades que merecem inversões; o ponto crucial, porém, é identificar onde não se pode injetar recursos. Não é aceitável que  um País de poucos recursos e tropical aventure-se a enviar neófitos atletas para uma Olimpíada de Inverno.


Esporte deve prestar-se às funções de saúde e educação para a população em geral e para a real perspectiva de resultados em competições internacionais. Não pode ser motivo para turismo gratuito.


A dramaticidade deste equívoco agrava-se, porém, quando observamos nossa participação nos mercados internacionais. Neste campo também é imperativo concentrar-se naquilo que se faz bem.


Não, nossa proposta não é procurar transformar em esporte olímpico práticas de nepotismo cruzado e reto, morosidade do Judiciário, capacidade de aquisição de votos ou despreparo presidencial. Aliás, neste último item enfrentaríamos eliminatórias duríssimas na América do Sul.


Há que ter uma visão de País. E nós temos fantásticas potencialidades a explorar com inteligência.


Do Bric - Brasil, Rússia, Índia e China -, países de características e potenciais aproximados, os dois últimos parecem melhor encaminhados.


Clóvis Rossi em sua coluna na Folha de São Paulo, logo que retornou do Fórum Econômico Mundial, identificou que a China, com sua formidável capacidade manufatureira, encaminha-se para ser a "fábrica do mundo". A Índia, por sua vez, há pelo menos duas décadas vem aperfeiçoando sua indústria de software, e tende a vir a ser a supridora planetária neste campo.


Ao Brasil cabe identificar suas forças e nelas investir; temos, só para exemplificar, uma indústria metal-mecânica qualificadíssima e um potencial turístico fabuloso.


Um País de dimensões continentais como o nosso deve ter um grupo de atividades nas quais deve perseguir a excelência em nível global, inserindo-se no contexto dos grandes players do comércio internacional. Nosso benchmarking, apesar de tratar-se de um país com uma população muito menor, é o Chile, que ou há alguns anos por um processo de identificação de uma visão de longo prazo para si. Hoje, distribuem-se ao longo daquela tripa que é o mapa chileno o vinho, o cobre, a fruticultura, o pescado e a madeira. Indústrias que no País, considerada a competição em nível internacional, estão num patamar de estado da arte.


No nosso caso, é nítido que não poderá ficar fora de foco a atividade do agronegócio. Temos solo, área para plantio, clima, equipamentos, insumos e tecnologia - a Embrapa é fantástica - para posicionarmos o Brasil, a médio prazo, como o celeiro do mundo.


Para tal, entretanto, é muito importante que tenhamos em mente toda a cadeia de valor do agribusiness. Em função de mau direcionamento de investimentos - olha o bobsled aí, gente! - temos carências na logística e na capacidade de agregação de valor aos produtos, temos que partir para a diferenciação.


Há, ainda, uma atitude leniente de nossas autoridades em relação à invasão de terras produtivas, extremamente desestimuladora para os investidores e apoiada por políticos irresponsáveis.


Definitivamente, carecemos de um líder com visão de longo prazo, que determine diretrizes que levem o País a um futuro melhor para sua gente.


Temos que deixar de ser o País do futuro. Ou seguiremos de cabeça para baixo, descendo uma montanha de neve.

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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