Avacalharam a segmentação

Nas palestras e aulas de segmentação de mercado que tenho ministrado, comento a questão dos nichos cada vez menores, que acabam tendo significado econômico …

Nas palestras e aulas de segmentação de mercado que tenho ministrado, comento a questão dos nichos cada vez menores, que acabam tendo significado econômico para uma empresa ou marca.


A sofisticação dos desejos dos consumidores faz com que a homogeneização da demanda seja cada vez menos freqüente.


A Coca-cola, por exemplo, considerando aqui, não a empresa, mas apenas aquele líquido marrom gaseificado e, cá entre nós, muito saboroso se servido na temperatura ideal, que, quando começou a conquistar mercado nos Estados Unidos, foi apresentado apenas com um tipo de formulação e numa única embalagem.


Atualmente, conforme o mercado geográfico que se considere, a quantidade de embalagens ampliou-se de forma exponencial, sendo apresentada também nas versões sem açúcar, sem cafeína ou com limão adicionado, só para citar algumas variações. Tudo decorrente da segmentação. Os consumidores sofisticam seus gostos, o que afeta diretamente a demanda.


Aos fabricantes restam duas alternativas: ou customizam seus produtos ou algum concorrente o fará.


Já há algum tempo, futurólogos de toda espécie têm abordado a segmentação no campo da audiência. Da mesma forma que o site no qual Você está lendo este texto é direcionado, em função de seu conteúdo, a um determinado grupo de leitores com interesses comuns, cada vez mais, outras mídias atenderão aos seus clientes em suas necessidades mais específicas.


É o caso da TV paga. Cada canal visa a entregar programação a um determinado grupo de espectadores. Desta forma, se Você gosta de notícias econômicas, Bloomberg é a sua praia. Se gosta de esporte, há o Sportv e a ESPN. Se seu negócio é consumir, refestele-se no Shop-time.


Para cada especificidade, uma oferta existe ou existirá.


No caso da programação disponibilizada através de pay-per-view, esta situação deveria ser ainda mais acentuada. O aficionado por lutas, da TV a cabo, quer "combates mortais" até fartar-se. É a sua expectativa.


Ponha-se agora no lugar de um determinado torcedor do Grêmio.


Ele paga TV a cabo e um adicional mensal para assistir na segurança da sua casa aos jogos do seu time e alguns outros. Quem sabe os do Inter, para dar uma "secadinha".


Pois no último domingo, durante a transmissão do jogo Grêmio e Fluminense, nosso torcedor-modelo foi presenteado com cerca de dez minutos de celebrações do milésimo gol do Romário, que ocorrera no Rio de Janeiro. Assistiu à entrevista da mãe do jogador, do jogador, sua volta olímpica, abraços e beijos emocionados, enquanto a bola rolava no jogo do seu time.


Quanta incompreensão do conceito!


Bastaria informar a ocorrência do midiático fenômeno que, se houvesse alguém que quisesse acompanhar as homenagens, clicaria no seu controle remoto, ando a assistir ao jogo do Vasco da Gama.


Suponho que, do ponto de vista econômico, a lambança não trouxe vantagem para ninguém. O "horário eleitoral do Romário" foi apenas desrespeito ao consumidor resultante da mais pura incompetência.


Avacalharam a segmentação e os fundamentos do marketing.


Nada demais num país no qual a corrupção coloca até o Buda em situação ridícula?

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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