Uma reportagem da Agência Brasil de 10 de março de 2025 aponta que nove em cada dez agressões cometidas contra mulheres nos últimos 12 meses, ou 91,8%, foram testemunhadas por outras pessoas. E que a maioria (86,7%) era pertencente ao círculo social ou à família da vítima. Mas, para espanto geral, quase metade das vítimas (47,4%) optou em não denunciar a violência e nem procurar ajuda de instituições ou de pessoas próximas. Será porque o agressor, na grande maioria das vezes, é beneficiado pela justiça? Ou será porque a palavra da vítima é sempre questionada? 2y4xf
Em relação ao perfil de quem presenciou as agressões, há a constatação de que 47,3% eram amigos ou conhecidos das vítimas, 27% eram filhos, que formarão uma ideia futura de família como um cenário inseguro e caótico, e 12,4% tinham outro grau de parentesco. Os dados acima ? divulgados pela Agência Brasil ? integram a 5ª edição do relatório Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). E indicam como é difícil para a mulher ter que denunciar. E como é penoso ter que revelar tal situação.
A dificuldade em procurar ajuda nos casos de violência encontra um território farto na reviravolta do caso Daniel Alves. Após 400 dias da condenação por estupro, a Justiça da Espanha decidiu, por unanimidade, pela revogação da sentença. Que já havia sido considerada baixa ? quatro anos e seis meses de prisão ? pelos movimentos de direitos humanos e feministas de todo o mundo. Tal anulação da pena é um retrocesso, em todos os aspectos, na luta contra a violência sexual. Cada vez mais, as vítimas são desestimuladas a realizarem as denúncias contra os seus agressores.
Até quando precisaremos gritar que não somos culpadas? Até quando será preciso repetir que qualquer ato sexual, sem o consentimento, é considerado sim estupro? Até quando teremos que insistir que não é sempre não. Apenas e só isso. O não dito pela mulher não quer dizer: "talvez", "tente daqui uns minutos", "quem sabe após uma insistência". Não é não. Respeitem a palavra das mulheres. Até quando vamos conviver com o medo de voltar da rua no meio da noite e sofrer uma perseguição? Até quando seremos julgadas pela roupa que vestimos? Até quando a impunidade dos agressores?
Essa coluna é um desabafo de quem está cansada de ver que julgamentos equivocados de violência contra as mulheres funcionam como um indicativo de que a denúncia nem sempre vale a pena. É um desabafo de quem já viu em muitos casos a palavra da vítima não ser valorizada o suficiente. É um desabafo de quem não entende porque quando a palavra da vítima não basta, a dúvida sempre será a favor do réu. É um desabafo de quem não a mais ver o assediador sair livre e faceiro enquanto a mulher tem a sua vida totalmente destruída.
É um pedido de respeito para que a nossa voz seja ouvida e valorizada. É uma esperança remota, mas que ainda não abandonei, de quem um dia, quem sabe, num futuro distante, o agressor não seja beneficiado. É uma súplica a todas as mulheres que não se deixem influenciar por decisões que ignoram o nosso sofrimento e façam as suas denúncias. Pela minha filha. Pelas próximas gerações. Por todas nós.