Assédio é assédio em qualquer lugar
Por Márcia Martins

Não importa se aconteceu dentro de uma empresa de comunicação, ou no interior de uma conhecida rede de lojas do varejo, ou numa sessão de alguma Câmara de Vereadores ou entre quatro paredes numa repartição federal. Atos de assédio moral e sexual sempre existiram e englobam uma diversidade de comportamentos de natureza ofensiva, que ameaçam, importunam, perturbam e se tornam repetitivos, dependendo do silêncio de quem sofre. Mas, com o tempo, as vítimas destes crimes, antes caladas, aram a sentir-se encorajadas para denunciar.
As recentes denúncias feitas por funcionárias de práticas de assédio sexual cometidas em diferentes ocasiões pelo então presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, comprovam que as vítimas (ainda bem) perderam um pouco a inibição e agora "põem a boca no trombone". Há quanto tempo o crime ocorria em reuniões, viagens e palestras da estatal só uma investigação muito apurada poderá revelar. Mas, pelo que se acompanha nas notícias até agora sobre o caso, o número de mulheres que foram assediadas pelo ex-presidente da empresa tende a aumentar.
A explicação é simples. Trata-se de uma prática difícil de provar. Não é usual fazer prova do assédio, porque normalmente ele é praticado num ambiente fechado, em conversas ao pé do ouvido, no meio do corredor. E, por isso, é a palavra da vítima contra a palavra do autor. Mas, quando uma das vítimas que foi assediada, moral ou sexualmente, tem coragem e toma a iniciativa de denunciar, outras ficam encorajadas e seguem o exemplo. Do contrário, o assediador, que confia muito na falta de denúncia e correspondente ausência de punição, segue cometendo o crime e importunando outras pessoas.
Mesmo com a pandemia que obrigou algumas pessoas ao isolamento e colocou muitos trabalhadores e trabalhadoras no home office, as práticas de assédio moral e sexual no Brasil apresentam números perturbadores. Em 2021, segundo dados do Tribunal Superior do Trabalho, foram ajuizados mais de 52 mil casos relacionados a assédio moral e mais de três mil de assédio sexual em todo o País. Mais preocupante é que esses números podem estar subestimados pelo medo que muitos empregados e empregadas têm de denunciar.
Ninguém tem que aguentar a importunação, seja de superiores, de colegas, vizinhos ou desconhecidos, no transporte público, por exemplo. Denúncias como as das funcionárias da Caixa Econômica Federal são muito importantes para estimular outras pessoas a tornarem públicas condutas abusivas. É preciso incentivar que as vítimas denunciem para acabar com a cultura da impunidade e interromper este ciclo vicioso de violência. Assédio é assédio em qualquer lugar. E a culpa nunca é da vítima.