Assassinato no aeroporto e o insano Sérgio Cabral Filho
Quem tem boca vaia Lula. Já quem tem boquinha, não. (Nani, Jornal do Brasil) Quinta-feira, 19, coloquei ponto final na crônica onde continuo contando …
Quem tem boca vaia Lula. Já quem tem boquinha, não. (Nani, Jornal do Brasil)
Quinta-feira, 19, coloquei ponto final na crônica onde continuo contando minha viagem pelo Nordeste em 1982. Minha caixa de e-mails, abarrotada por dois assuntos, abortou a intenção.
O desastre em Congonhas gerou indignação nacional, e o jornalista Francisco Daudt, na Folha de São Paulo, lembrou o livro de García Marquez, Crônica de uma morte anunciada. Ele inicia assim seu artigo: "Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estame, em letras garrafais, GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS. O assassino não é só aquele que enfia a faca, mas o que, sabendo que o crime vai ocorrer, nada faz para impedi-lo. O que ocorreu não pode ser chamado de acidente, vamos dar o nome certo: crime".
Já do meu amigo de há muito, o jornalista gaúcho Madruga Duarte, vai um trecho de sua revolta:
"Perdi, nesta terça-feira, alguns bons e expressivos amigos.
Dois ex-colegas da RBS (João Brito e Zé Luiz Pinto).
Um ex-colega do Sistema de Saúde Mãe de Deus (Eduardo Mancia)
Um político-amigo em quem depositava fé (Julio Redecker).
Eles não foram mortos acidentalmente. Foram assassinados.
E quem poderão ser os assassinos:
- o nosso Presidente?
- o nosso ministro da Defesa?
- a nossa chefe da Casa Civil?
- a diretoria da Infraero?
- a diretoria inerte da Anac?
- a diretoria gulosa da TAM?
- nós todos, pela nossa inércia??"
De minha parte, reportando-me à tragédia dos equívocos surgidos há nove meses, quando do desastre com o avião da Gol, escrevi na época, em outro veículo, que Lula, em função do ado do ministro da Defesa, Waldyr Pires, precisaria arranjar uma saída nobre para o mesmo, coisa que Lula confessou, na semana ada, estar pensando no assunto? Isso na semana ada, sobre outros mais de 200 mortos.
Sobre o outro assunto - a vaia -, eu havia me prometido silêncio sepulcral mas, na mesma quinta-feira, uma crônica de Verissimo, em O Globo, e as declarações do governador fluminense Sérgio Cabral (o filho) ressuscitaram o defunto.
Por coincidência, naquela semana, saiu num pasquim artigo meu sobre a crônica "Quase", publicada numa antologia sa de autores brasileiros com o título de "Presque", e falsamente atribuída a Verissimo. Contei a história, comentei nossa amizade, a sua competência soprando um sax e que eu o considerava, hoje, o melhor cronista das letras brasileiras. Nada disso mudou, ainda que - coisa mais natural - eu discorde do seu alerta naquela crônica, pois ele se esqueceu, na minha opinião, que as recíprocas acontecem. E eu explico.
Em sua crônica, com absoluta propriedade, Verissimo exemplifica como o coro que aplaudia Hitler por medo do comunismo pagou por coisa muito pior e o coro de aplausos para Stalin deu no que deu.
Escreveu Verissimo: "Se estes dois exemplos ensinam alguma coisa é isto: antes de participar de um coro, veja quem estará do seu lado. No Brasil do Lula, é grande a tentação de entrar no coro que vaia o presidente. Ao seu lado no coro poderá estar alguém que pensa como você, que também acha que Lula ainda não fez o que precisa fazer e que há muita mutreta a ser explicada e muita coisa a ser vaiada. Mas olhe os outros. Veja onde você está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice. A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica ao Lula, mesmo as que ele merece. Enfim: antes de entrar num coro, olhe em volta".
Na minha garganta, esse alerta ficou engasgado. E eu explico.
Não me parece que a maioria que vaiou Lula seja a canalha da última ditadura e os seus seguidores; não me parece que entre o pessoal da vaia haja responsáveis por essa secular e indecente distribuição da renda nacional. Teria a vaia saído daqueles petistas não-expulsos do PT - a canalha do mensalão - ou dos filhos e afilhados do ladrão Maluf? Não, claro que não.
Tenho certeza que entre a multidão havia idosos que sempre militaram e votaram nos quadros da esquerda, e gente que, descontente com os neoliberais, apostou nas idéias sempre defendidas pelo PT. Quais eram mesmo essas idéias? Naquela vaia, estavam os idosos que, contrariando as baboseiras do filósofo tupiniquim, não abandonaram, por simples questão etária, suas convicções de esquerda.
A vaia esteve na contramão da História: a parcela de canalhas presente no Maracanã descuidou-se e não viu com quem "está metido, com quem está fazendo coro, de quem está sendo cúmplice". Acho que aquela vaia receberia de Nelson Rodrigues um comentário como o "Sobrenatural de Almeida" adentrou no Maracanã quando a canalha de fraudadores juntou-se ao imenso coro dos fraudados.
Quanto ao Sérgio Cabral, o filho - venero o pai -, não esqueci quando, para eleger-se senador, casou-se com o Garotinho. Para ser governador, acrescentou a Rosinha num despudorado ménage à trois político. Nenhum divórcio apaga essa mancha negra, espúria e indefensável. Agora, no afã contínuo de puxar o saco do Presidente, teve o descaramento de afirmar que ninguém em sã consciência teria coragem de vaiar Lula. Insano é a mãe, diria eu, não fosse o imenso afeto que tenho pelo maridão dela.
Aquela multidão que vaiou Lula, que aguarde agora a oportunidade para vaiar esse governador que, por extremo amor ao poder, perdeu a consciência do que seja consciência. Sugiro ao puxa-saco que consulte psiquiatras, psicanalistas e psicólogos.
Aos que acham que a vaia ao Presidente foi dada em situação imprópria, lembro que esse ignorante, que afirmou ser filho de pais que nasceram analfabetos, não tem aberto a guarda para situações próprias a vaias. Sua rotina de camelô escolhe os mercados de aplauso fácil. E sua assessoria, coitada, é surda.
Imprópria mesma foi a atitude indecente do assessor presidencial Marco Aurélio Garcia flagrada pela TV Globo. Como acho indecente "bater em cachorro morto", calo-me.
Inté.
* Face a muitos artigos que escrevi sobre o camelô e a banda podre do PT, recebi alertas de amigos que acham que ando cuspindo no meu ado, eu que escrevi e, sustento, "apesar da idade", que ser de esquerda, nos países não-desenvolvidos e onde a população não tem o à Civilização, é uma postura ética, muito mais que ideológica. Recuso-me a trocar o pior por muito pior e acho que Lula tem escarrado no seu ado, desde que assumiu a presidência e tornou-se um desastrado camelô de si mesmo. A vaia foi a expressão sadia de quem só vê o aeroporto como a saída para o brasileiro. Ou melhor, o cais.