As transformações sociais pós pandemia

Por Elis Rann

 

A pandemia foi disruptiva, marcou mudanças profundas na sociedade, com impactos sociais, econômicos, políticos e, principalmente, comportamentais. Desde então, as pesquisas do IPO - Instituto Pesquisas de Opinião têm monitorado as novas preocupações e expectativas da população, bem como os novos hábitos e visões de mundo que estão em formação. Muitas vezes, não nos damos conta de como mudamos enquanto indivíduos e como sociedade nos últimos cinco anos. Algumas mudanças foram positivas, enquanto outras trazem preocupações.

As famílias estão tendo menos filhos, os divórcios vêm aumentando e, com a rotina cada vez mais acelerada, as guardas estão se tornando cada vez mais compartilhadas. O trabalho remoto se manteve em alguns setores da economia, mas é cada vez mais recorrente o desejo de equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida. Isso tem levado muitas pessoas a trocarem de profissão ou a optarem pelo empreendedorismo, buscando mais tempo para si e para suas famílias.

A prática de atividade física tem sido cada vez mais valorizada, estimulando o crescimento de academias em cidades de todos os portes. Pesquisas com diferentes segmentos mostram que, em média, metade da população está praticando algum tipo de atividade física, mesmo que seja apenas caminhadas regulares.

A busca por uma alimentação mais saudável também está na agenda da maioria da população, que reclama do aumento do custo de vida, criticando a inflação que é sentida no supermercado. As pessoas desejam alimentos mais naturais e orgânicos, que auxiliem no fortalecimento do sistema imunológico, com maior interesse por legumes, frutas e grãos.

É importante ter clareza de que essas novas práticas também fazem parte de uma resposta ou de prescrições médicas voltadas ao cuidado com o bem-estar e com a saúde física e mental das pessoas. Desde a pandemia, tem aumentado o número de pessoas com ansiedade e depressão. Dados oficiais do Governo Federal mostram que, em 2024, o Brasil registrou um aumento de 68% nos afastamentos do trabalho por questões de saúde mental. Diante desse cenário, cresce o interesse da população por autoconhecimento a partir de terapias alternativas e espiritualidade.

Toda essa jornada de transformação é estimulada pela tecnologia, na qual a internet ocupa um duplo papel: auxilia no processo de conexão do indivíduo com o mundo e, ao mesmo tempo, contribui para a desconexão com a realidade. Os números mostram que o consumo de conteúdos e vídeos pela internet está cada vez maior, aumentando o tempo de tela das pessoas, que muitas vezes não percebem que am de 3 a 5 horas do dia presas ao celular.

Na política, com a ampliação do populismo e do extremismo, estamos presenciando o fenômeno da recessão democrática, associado ao enfraquecimento gradual do reconhecimento da democracia. Isso ocorre devido à redução dos direitos sociais, como o o à educação, saúde, trabalho, moradia e previdência social, à diminuição da participação popular e à perda de credibilidade de instituições como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional.

Autor
Elis Rann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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