As Rosas Perplexas

As rosas não falam, dizia mestre Cartola, mas devem ficar perplexas quando se acende a polêmica sobre os transgênicos. Elas se classificam em mais …

As rosas não falam, dizia mestre Cartola, mas devem ficar perplexas quando se acende a polêmica sobre os transgênicos. Elas se classificam em mais de 30 mil variedades, que vão do branco ao escarlate, com escalas pelo amarelo, laranja e cobre, isso sem contar as pequenas, médias e grandes e também as cores que elas fabricam, sem dar a mínima satisfação a quem quer que seja.


Hoje, espalhadas por todo o mundo, é difícil dizer qual a rosa não-transgênica. Originalmente, só existiam naquela parte de cima do mundo batizada de Hemisfério Norte. E cada uma na sua: as da Europa, apesar de maiores e  mais perfumadas que as da Ásia, eram menos coloridas e duravam muito menos. Um poeta francês, Malherbe, falando de um mulher bonita que morreu muito jovem, escreveu que ela havia vivido o que vivem todas as rosas, pelo espaço de uma manhã.


Tudo isso até os anos 1700, quando as rosas asiáticas foram trazidas para a Europa. E aquele bicho carpinteiro que habita o ser humano e é responsável pelo que chamamos de progresso, começou a fazer das suas. Primeiro, achou que as rosas da Europa eram muito chatas, tão chatas que parecia que alguém tinha sentado nelas. E cruzaram variedades daqui e dali, até que criassem corpo como elas têm hoje.


Depois foi a cor e o tamanho. O casamento de rosas australianas com as européias deu todos esses tons que hoje alegram os jardins. Um francês, Meilland, criou uma rosa bem grande, a que ingenuamente chamou de Paz.


As rosas não falam mas devem estar perplexas. Os homens falam tanto, criam tantas palavras e não conseguem viver a não ser em guerra.


Elas, que não falam, são o próprio retrato da paz.

Autor

Jayme Copstein é jornalista, com atividade em jornal e rádio desde 1943,com agens pelos principais veículos de Porto Alegre. Trabalhou 22 anos no Grupo RBS como apresentador de programas e comentarista de opinião da Rádio Gaúcha, e atualmente é colunista do jornal O Sul e apresentador do programa 'Paredão', na Rádio Pampa. Detentor de vários prêmios, entre eles, Medalha de Prata (2º lugar) no Festival Internacional do Rádio de Nova York (1995), em 1997 publicou "Notas Curiosas da Espécie Humana" (AGE). Seu livro mais recente é "A Ópera dos vivos", editado em janeiro de 2008.

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