As Rosas Perplexas
As rosas não falam, dizia mestre Cartola, mas devem ficar perplexas quando se acende a polêmica sobre os transgênicos. Elas se classificam em mais …
As rosas não falam, dizia mestre Cartola, mas devem ficar perplexas quando se acende a polêmica sobre os transgênicos. Elas se classificam em mais de 30 mil variedades, que vão do branco ao escarlate, com escalas pelo amarelo, laranja e cobre, isso sem contar as pequenas, médias e grandes e também as cores que elas fabricam, sem dar a mínima satisfação a quem quer que seja.
Hoje, espalhadas por todo o mundo, é difícil dizer qual a rosa não-transgênica. Originalmente, só existiam naquela parte de cima do mundo batizada de Hemisfério Norte. E cada uma na sua: as da Europa, apesar de maiores e mais perfumadas que as da Ásia, eram menos coloridas e duravam muito menos. Um poeta francês, Malherbe, falando de um mulher bonita que morreu muito jovem, escreveu que ela havia vivido o que vivem todas as rosas, pelo espaço de uma manhã.
Tudo isso até os anos 1700, quando as rosas asiáticas foram trazidas para a Europa. E aquele bicho carpinteiro que habita o ser humano e é responsável pelo que chamamos de progresso, começou a fazer das suas. Primeiro, achou que as rosas da Europa eram muito chatas, tão chatas que parecia que alguém tinha sentado nelas. E cruzaram variedades daqui e dali, até que criassem corpo como elas têm hoje.
Depois foi a cor e o tamanho. O casamento de rosas australianas com as européias deu todos esses tons que hoje alegram os jardins. Um francês, Meilland, criou uma rosa bem grande, a que ingenuamente chamou de Paz.
As rosas não falam mas devem estar perplexas. Os homens falam tanto, criam tantas palavras e não conseguem viver a não ser em guerra.
Elas, que não falam, são o próprio retrato da paz.