As peraltices de George W. Bush

Bush entraria para a História como uma grande piada grosseria, não fosse a montanha de esqueletos que deixou para trás. Quando menino George devia …

Bush entraria para a História como uma grande piada grosseria, não fosse a montanha de esqueletos que deixou para trás.


Quando menino George devia ser um daqueles garotos sardentos, ricos e idiotizados, do tipo que leva o revólver do pai para a aula, e depois para as festinhas. Andava armado para intimidar os amiguinhos, era o líder e certamente muito popular. Claro que era fascinado por velocidade, garotas e bebedeiras, sempre com a tolerância hesitante das autoridades que, ou fingiam que não viam, ou no máximo o levavam em casa, quando o porre o derrubava. Sempre sob o olhar benevolente da mãe e dos gestos propositivos do pai, político notável e poderoso. Não sei, tenho para mim que o Bush pai tinha um mau pressentimento sobre o filho: "Esse menino ainda vai fazer uma grande cagada (com perdão da expressão chula). Não sei quando, mas vai".


 Bush filho foi o governador que mais negou a comutação da pena de morte aos condenados suplicantes. ( Muito provavelmente nunca se deu o trabalho de ler o derradeiro recurso judicial). Como bom texano de ultra-direita, o cowboy George Bush, com o tempo, desenvolveu três crenças básicas: ódio aos comunas, negócios entre amigos e fé cega no diálogo do canhão. Primeiro atira, depois negocia. Comunas, bem entendido, era qualquer pessoa, grupo, associação ou país que não compartilhasse as suas convicções. E, óbvio retumbante, suas convicções se resumem em poder e grana. Sei que dou a impressão de que estou enxugando gelo, ou chutando cachorro morto, mas falar em Bush acaba sendo ou uma coisa, ou outra, é inevitável.


 No dia 11 de setembro de 2001, às 10 horas da manhã eu entrei na sala de reuniões da agência e a TV recém havia sido ligada por um pequeno grupo de colegas perplexos. Uma das torres fumegava, e as notícias truncadas davam conta de um desastre aéreo (nada se sabia ainda sobre os sequestros dos outros aviões). Minutos depois o segundo boeing atingiria em cheio a segunda torre.


Vou avançar três dias no tempo para chegar no ponto que desejo. Foram raras às vezes que experimentei percepções agudas em minha vida. O que eu chamo de percepções agudas? Young diz que o inconsciente só registra as emoções intensas. Todo mundo já teve uma ou duas fortes impressões na vida, que não corresponderam à leitura média das pessoas no entorno. Mas a pessoa percebeu, sentiu, sacou, não obteve ressonância de ninguém, então se calou para não ar por louco. E depois suas finas percepções foram confirmadas. Não tem nada de mediunidade, acho que é uma sacação bem desenvolvida por bons observadores.


Primeiro ponto, e este foi vox populi: Bush demorou três dias para dar uma coletiva de imprensa sobre a catástrofe do 11 de setembro.


Os Estados Unidos mergulhados no terror, e o sujeitinho quieto, na dele.


Segundo ponto, este onde eu queria chegar: durante a coletiva a câmera fechou em seu rosto. Bush é mau ator, além de casca grossa. Havia sim, em sua expressão de olhar, algo de uma ponta de alegria mal dissimulada. Sua gestualidade, sua pose - na tentativa de emprestar à ocasião a gravidade que se esperava do presidente dos Estados Unidos-, destoava daquele olhar maroto que teimava em escapar de seus olhos miudinhos.


Era a grande chance da sua vida. Estava avalizado para colocar em prática todas as suas crenças, e todos os seus negócios, num único pacote que Osama Bin Laden lhe entregou, embrulhado para presente. "Chamem a cavalaria, acabem com os malditos ". George Bush sacou os seus mísseis e foi terminar o serviço que o pai deixou pela metade na guerra do Kwait, este era um dos seus sonhos, além dos lucros das empreiteiras, do loby armamentista e das empresas de petróleo.
Claro que as coisas não saíram como ele e seus falcões haviam planejado. Depois do impressionante aparato bélico (e do espetáculo tecnológico de guerra), o teatro de operações iraquiano não ou de uma carnificina sem pé nem cabeça, aliás pés para um lado e cabeças para o outro, conforme as cenas brutais que a mídia internacional exibiu sem pudor.


Bush entraria para a História como uma grande piada grosseria, não fosse a montanha de esqueletos que deixou para trás. Seu espírito varonil também deixou o seu país em ruínas, e o planeta devastado pela maior e pior crise do sistema capitalista que se tem notícia. Estas foram as últimas peraltices do Bad Boy, o menino que não cresce nem a pau. E que acabou sendo o mais competente cabo eleitoral de Barack Obama, cuja missão faz lembrar nome de filme da linha catástrofe épica: "A última esperança da terra". Que vida louca, como diz o meu amigo Renato Vieira. 

Autor

Paulo Tiaraju é publicitário, diretor de Criação da agência Match Point, cronista e violeiro. Foi o primeiro criativo gaúcho a ganhar o prêmio Publicitário do Ano, concedido pela Associação Riograndense de Propaganda (ARP). É pai de Gabriel Nunes Aquino.

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