Apocalipse now????
Há uns 18 anos, por aí, como mãe de um aluno do Colégio Americano, fui convidada, por ser jornalista, a falar sobre minha profissão, …
Há uns 18 anos, por aí, como mãe de um aluno do Colégio Americano, fui convidada, por ser jornalista, a falar sobre minha profissão, eu e um amigo, também jornalista, pai de um colega e amigo do meu filho. Este profissional do Jornalismo, filho de um dos jornalistas mais estimados e competentes deste Rio Grande do Sul, lá pelas tantas declarou, para aquele bando de meninos e meninas cheios de espinha na cara, que o Jornalismo como se conhecia estaria morto em poucos anos, graças à chegada da Internet. Eu, que havia feito um eio histórico pelo surgimento da comunicação social para a gurizada, fiquei parada, com cara de boba, ouvindo esta declaração, e só reagi na saída, com um saudável bate-boca que ficou por isso mesmo - ele, porta-voz do fim dos tempos do que lhe servia, a ele próprio, de ganha-pão, e eu, incrédula, defendendo minha tese de que já tinham dito o mesmo em relação ao rádio quando a televisão chegou.
Agora, leio no nosso Coletiva o artigo de André Deak, que é diretor multimídia na Agência Brasil (um dos braços da Radiobrás), cuja home de seu site estampa com destaque a sua "Missão": "Somos uma empresa pública de comunicação. Buscamos e veiculamos com objetividade informações sobre Estado, governo e vida nacional. Trabalhamos para universalizar o o à informação, direito fundamental para o exercício da cidadania". O título do artigo de André, que, pelo que deduzi em um de seus escritos para seu mais recente espaço na web, deve ter seus 30 anos ou quase, determina a morte do que ele chama de velho Jornalismo. E defende a tese - louvável, até - de um profissional ser capaz de se virar em todas as faces da mídia. Legal, isso. Acho que o desafio de se manter acima da linha d água, não só mas também profissionalmente, independe de idade e de ado, conhecimento agregado, especialização, etc etc. É questão de crescimento, da inquietação de cada um em tentar aprender e executar coisas novas.
No entanto, detesto previsões apocalípticas, não importa para onde se dirijam. Acho uma coisa pobre, calcada em um determinismo que deveria estar sepultado há muito tempo. Por isso, acredito que anunciar fim disso e daquilo, muito especialmente nesta área de comunicação humana, é, para dizer o mínimo, ingênuo, naif.
E me incomoda essa idéia (que me cheira à exploração do ser humano) de fazer com que um só faça o trabalho de três ou quatro. Que bom para o empregador! Que porcaria para este mercado inflacionado! Que triste para quem a seu tempo tentando fazer o seu melhor, seja num blog na Suíça, seja lá no interior de uma cidadezinha do Amazonas, ainda na máquina de escrever, tentando cumprir seu papel de levar informação para sua comunidade.
Pela teoria de André, feita à base de tantas outras que ele cita, para este tipo de gente não tem mais lugar. Engraçado é que André, tão plugado (e, pelo que parece, empenhado) nesta desconstrução do jornalismo "antigo", assine, no site ps.mudeideideia.zip.net, dois posts de absoluto encantamento sobre a cidade Christiania, na Dinamarca. "Parece ter saído de um conto de fadas - mas fadas não fumam haxixe. Flores espalham-se por janelas de pequenos sobrados de pedra, em ruas ainda de paralelepípedos", inicia seu relato sobre a cidade encantada. Vale a pena conferir o texto e o site. Aliás, senti falta de referência à existência de computadores, web e veículos de comunicação em Christiania. Vai ver quando André lá esteve, já haviam banido todos. Por já serem velhos e obsoletos.