Apenas um falso seqüestro
É impressionante como alguns assuntos só chegam às mídias anos depois de ser realmente novidade. É o caso dos falsos seqüestros, que viraram matéria …
É impressionante como alguns assuntos só chegam às mídias anos depois de ser realmente novidade. É o caso dos falsos seqüestros, que viraram matéria de IstoÉ e estão agora em destaque no Terra. A prática criminosa, uma das mais vis já inventadas, porque se baseia na mentira e na intimidação, está na roda há pelo menos quatro anos, foi tema de uma que outra reportagem, mas parece que agora, com a falta de notícias mais suculentas, volta à pauta com mais destaque.
Aqui em casa, tivemos duas experiências do gênero, que não chegaram ao ponto crítico do anúncio de alguém "seqüestrado", mas assustaram igual. Da primeira vez, ligaram para avisar sobre uma suposta premiação de um carro zero, envolvendo uma promoção entre duas companhias telefônicas concorrentes e o nome do Faustão. Cheguei a mandar mail para a Polícia Federal, mas nunca recebi resposta.
A outra vez, foi mais complicado: ligaram para um integrante da minha família chamando pelo nome e citando o fato de ela ter conta de determinado banco, propondo uma aplicação muito rentável. Quando dispensados, os bandidos não tiveram o menor problema em ligar mais duas vezes. Mais uma vez, comuniquei à polícia, que me sugeriu ficar atenta mas me garantiu não ser nada de muito perigoso. Era só não cair no golpe.
Já o banco, devidamente procurado para troca de senha e outras providências, mandou que o chefe da segurança me ligasse para, gentilmente, se inteirar e também dar sugestões. Só que ele queria que não trocássemos o número do telefone, para permitir que pudessem investigar quando e se os cafajestes bem aparelhados de celular dentro dos presídios fizessem novo contato. Claro que mudei de número, e de companhia. Na semana seguinte a essa providência, uma amiga de minha filha ou o inferno com o anúncio do suposto seqüestro do irmão e nem quer falar no assunto.
É inconcebível que esta modalidade tenha se espalhado e que a encaremos com tamanha naturalidade. Em breve, quem sabe, teremos uma cartilha de procedimentos em caso de alarme falso. Está pior que vírus pela internet. Todos sabem que existe, mas ninguém é preso, ninguém é punido. Só falta classificarem esta cabotinagem no rol dos crimes de colarinho branco já que, teoricamente, é apenas golpe.
Eu, de minha parte, me previno como posso. Ando sempre muito atenta na rua, em especial na direção, e já não sou a mesma corajosa que singrava as ruas madrugada adentro, depois de uma boa sessão de cinema à meia-noite.
Soube, um pouco atrasada, que os cinemas de um shopping de Porto Alegre foram fechados por causa dos seqüestros praticados em seu interior, quando sujeitos encostavam em espectadores e, sob a mira de armas, os levavam para o estacionamento. Se nem no shopping mais dá para confiar, o que se fará?
Pode ser que voltemos aqueles bons tempos de reunir os amigos em casa, para uma comidinha, um violão e coro desafinado, aquela coisa boa de sentar no chão, com as costas apoiadas na parede, jogando conversa fora, que hoje não se faz mais. Claro que chegar e sair continuará exigindo uma operação de guerra, com batedores espiando na porta para ver se está tudo limpo. Mas, quem sabe, vamos voltar a ser amigos mais fraternos, mais solidários até.
Ih, já estou viajando! Por enquanto, então, vamos acompanhar as matérias atrasadésimas sobre o novo-velho hit da bandidagem. Que, em breve, ninguém estranhe, terá blogs e sites na internet.