Ansiedade

Por Luan Pires

Recebi duas perguntas que têm a ver, de certa forma, com ansiedade: do Tiago e da Jordana (Jordana é um nome fictício, por pedido dela). Por isso, na coluna de hoje, resolvi falar de ansiedade.

Ansiedade dói feito prego enferrujado cravado no meio da sola do pé. A ansiedade é uma prima distante minha, a Vida, por assim dizer. Isso porque a ansiedade é a vivência prévia do futuro. O medo do que vai vir. A necessidade de controlar o que não existe. De tentar se precaver de dores já sentidas no ado, como se humanos fossem capazes de se blindar de novos erros por meio de erros antigos. Podemos evoluir com eles, mas blindagem é algo intransponível e a ansiedade nunca vai ser barrada por nenhum de vocês, humanos. Ela entra em qualquer armadura.

É uma merda, isso (sim, falo palavrões, aprendi com vocês). É uma merda porque é uma sensação de não conseguir aproveitar o "agora" já que o seu agora está tangibilizado na sua mente como "amanhã". Como vocês humanos vão meditar se eu ouço da mente de vocês ecos de desespero por causa do trabalho abusivo, de pessoas tóxicas, de sonhos não realizados, ou até mesmo de medos de sonhos que podem ser seguidos?! Como vou dizer pra vocês ouvirem o som dos arinhos, sentirem o calor do sol na pele, pensarem que a existência de vocês é tão finita como a vida de uma pulga... Como vou dar esses conselhos sabendo que mesmo assim dói muito? 

Eu sei que dói porque eu, Vida, sou vocês. De dentro para fora. De fora para dentro. Eu, Vida, sou o ar dos pulmões de vocês, o sangue bombeando para o coração, sou o suor frio, o tremor das mãos, a voz que gagueja e o olho que chora. Mais que coisas visíveis. Eu sou a raiva que não a, o sentimento de abandono que não abandona, eu sou a incapacidade de se ver capaz. Eu sou todos os traumas de infâncias, a corrente que ligou vocês a pais ausentes, mães alienadas, amores prejudiciais, amigos descartáveis, colegas soberbos, chefes que não reconhecem. Eu, Vida, sendo suas dores, como vou ter a audácia de dizer: meus filhos queridos, só vivam o presente!

Na teoria esse conselho até funcionaria, mas eu sei que na prática só levantar da cama para quem tem ansiedade é um exercício colossal. Ter que se colocar à prova de outras pessoas, usar essas redes sociais e a toda hora ser bombardeado de uma falsa visão dos outros (e eu conheço todos os humanos, eu sei que é uma visão falsa). Mas, meus queridos, o conselho que eu dou é: encarem. Não se sintam culpados por essas dores e dificuldades. Não se pressionem por superação. Apenas tentem caminhar em direção à melhora. E aceitem os os para trás, o prego enferrujado, o frio na barriga, os fracassos e os traumas. Vencer a ansiedade não é extingui-la. É nunca sair do ringue mesmo que, frequentemente, você seja derrubado por ela. 

Com Amor, Vida.

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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