O que dizer, quando os Estados Unidos convocam para voltar à guerra 75 soldados que já estão mortos? Qual nossa esperança para o ano novo quando na Guatemala dois jovens violentam e decapitam uma criança de seis anos? Como acreditar que ainda há salvação se o vice-governador nem bem assumiu e já foi assaltado numa esquina reconhecidamente vulnerável por onde metade da cidade a indo e vindo do mais movimentado shopping de Porto Alegre? Os carros continuam sendo apedrejados na embocadura da freeway, mas a vila continua lá, inchando, parindo revolta dia a dia. Quem se importa, além dos apedrejados?

Entre a saída de um governo e a entrada de um novo, nos movemos, mergulhados no noticiário potencializado ao extremo pela internet e seus filhotes e apadrinhados. Não temos tempo para deglutir uma informação e lá vem outra, nos enchendo os ouvidos, os olhos e, muitas vezes a paciência. Susana Vieira vai ou não vai se separar do marido que, em outros tempos, ganharia uma classificação que o colocaria entre os moços que agenciam mulheres na Voluntários? Courtney Love ainda é gente, com a cara deformada e os peitos semelhantes a airbag?

Em compensação, as gurias descobriram o dourado nas praias gaúchas. Pode haver notícia mais alvissareira? Coisa mais linda aquele desfile de ouro puro pelas charmosas areias de nosso litoral. Deu até capa de jornal, informação a mais valiosa. Quem não tiver como usar alguma coisa que ao menos lembre ouro, que se dane. Estará fora de tudo: da moda, das tendências e das manchetes. "Apenas um toque de brilho", disse um especialista em moda. A pivetada deve estar em alfa: pelo sim pelo não, vamos levar o bonezinho da gatinha aí, vai que é de verdade!

Em compensação, Lula e Dona Marisa (diga-se, plugada no que é in, investiu no amarelo dourado em seu vestido de re-posse) já estão (assim mesmo, como saiu no site de notícias) já estão, repito, no Guarujá, para suas merecidas férias. Do agreste nordestino para as águas (poluídas, ta certo) da praia da classe média paulista. Isso sim é que é vencer seu destino, sr. Presidente!

Mas precisão em matéria de jornalismo está na notícia sobre o atropelamento de um homem, na manhã de sábado, na Borges de Medeiros. O último parágrafo esclarece tudo: "A pessoa teria sofrido convulsões após o choque". Bravo! O leitor, esclarecido, e estarrecido, agradece esta aula de procedimento investigativo.

Por isso me divirto mais lendo o Le Monde, que conta que os parisienses estão em pé de guerra, discutindo sem descanso (bem como os ses gostam) a proibição, pelo governo, da distribuição de sopa de carne de porco para os sem-teto. De um lado, o governo alega que a comida é discriminatória e capaz de perturbar a ordem pública (!!!). De outro, os autores da idéia dizem que nem judeus nem muçulmanos reclamaram. Pérola a frase do advogado da Solidarité Française, a entidade benemerente que inventou a sopa suína: Monsieur Bruno Le Griel disse que se os muçulmanos não quiserem comer sopa com bacon, que ele alega ser realmente uma comida de pobre, vão propor uma outra coisa e que devem procurar, então, entidades de caridade muçulmana.

Ah, estes ses. Pelo menos nos fazem rir. Bonjour a tous!