Amor rasgado
Leve a patroa. Nada fale sobre o filme. Afinal, chinês não é bem um padrão popular, quando influi o gostar e o não-gostar. Algumas …
Leve a patroa. Nada fale sobre o filme. Afinal, chinês não é bem um padrão popular, quando influi o gostar e o não-gostar. Algumas pessoas sairão durante a sessão. Não se assuste. É força demais na tela. Não estamos acostumados. Com aquela contenção toda, os chineses, quando se soltam, são vulcões de energia represada pela tradição.
As mulheres dão um show à parte em Desejo e Perigo, com direção de Ang Lee. Um filme que se a nos anos 40, onde o que se vê é uma China inglesa, com a presença de muitos ocidentais, roupas e hábitos europeus. No entanto, o domínio é japonês e este, o grande inimigo. Os chineses colaboracionistas devem ser assassinados pela resistência e o papel das mulheres nessa missão é fundamental.
Elas são belas no filme em todas as idades. As chinesas, é claro. O mesmo não se pode dizer do casting das japonesas, em rápida e contrastante aparição. Mesmo na maior miséria, em tempos de racionamento até de arroz, as chinesas jogam mahjongue, na maior elegância, em todas as classes sociais. Cabelos e pele perfeitos. Discrição na roupas e joias. A beleza feminina conquista a audiência e o perigo torna-se o ator coadjuvante.
O filme não é violento, não tanto quanto se comenta. Ou como podem achar aqueles que se retiram das salas de exibição. Com exceção de algumas cenas mais explícitas, onde o sangue jorra vermelho, ainda que desajeitado, mais se fala em torturas ou espancamentos e até cita-se a morte. No entanto, o que surge na tela é a sedução e a luxúria, sob uma ameaça velada, sempre iminente.
A forma de aproximação entre os dois protagonistas (os personagens Sr. Lee e Mak Tai Tai) tem um resultado animal. Amor e ódio serão disputados em diversas posições e diferentes intensidades. No entanto, antes disso, a curiosidade e a desconfiança preparam o terreno, de soslaio, demoradamente. E quanto mais o casal demora em se entregar, em se encostar, em se encarar, mais interessante fica a trama. A delicadeza da espera que antecede a fúria nos leva a aceitar as cenas tórridas, mesmo que com surpresa, de uma forma assustadoramente natural. A energia é positiva, ainda que tudo conduza à beira de um precipício.
Tudo é precisão no filme, sensível, belo e delicado. Os homens chineses, em suas manifestações de ódio, paixão e risos, nervosas e desengonçadas, contrastam com o equilíbrio feminino. E o que resulta é uma troca de emoções dúbias que o cinema traz em todas as épocas. Capaz de nos transformar, ainda que o cérebro resista.