Ainda Londres

Estou (ou deveria estar) em Londres. Assim como não tenho nada contra os, tenho tudo contra o verdadeiro rosário de feriados religiosos. Sendo o …

Estou (ou deveria estar) em Londres.


Assim como não tenho nada contra os, tenho tudo contra o verdadeiro rosário de feriados religiosos.


Sendo o Brasil um estado laico, não se justifica esse permanente crime contra a economia nacional e, em vez de uma revisão nos feriados existentes para eliminar os que não se baseiam na cultura popular, como o Natal,  acrescentam-se outros, na maioria bizarros, como aconteceu no Rio de Janeiro com o São Jorge, cidade cujo padroeiro é festejado no feriado de 20 de janeiro. 


Fico imaginando se a moda pega e os fiéis de outros credos começam a reivindicar feriados em homenagem a Alan Kardec, Ogum, Lutero, Buda, Maomé, Tupã e outros, até que restasse um único dia útil antes da criação do Dia dos Ateus.


São Jorge é o santo padroeiro da Inglaterra e no dia 23 de abril foi alvo de homenagens e festas, como também se faz no Brasil.


Festa sim, inclusive numa das principais praças londrinas, mas feriado, nem pensar.  Vamos trabalhar, minha gente?


Quanto a São Jorge, lembrei-me que nos remotos tempos da minha adolescência, era raro entrar num prostíbulo que não tivesse, acima de uma lamparina ou de uma vela, a imagem do santo guerreiro. Amém.


Já que me suponho em Londres, onde até os médicos atendem na hora marcada, tenho que me lembrar de descer as escadas do "tubo" pela esquerda, pois à direita é o tropel dos apressadíssimos.


A "mão inglesa" é herança dos tempos em que o meio de transporte era o cavalo e foi adotada em respeito aos espadachins que, transitando cada um em sentido contrário ao outro, evitavam que suas espadas se batessem. Já a altura dos táxis é herança das carruagens que permitiam que o ageiro entrasse com a  cartola sem abaixar a cabeça.


Lord Sandwich era um viciado no carteado que, para não interromper o jogo enquanto comia, pedia - no seu clube - que enfiassem umas fatias de rosbife no meio de um pedaço de pão. Assim, há mais de dois séculos nascia o sanduíche.


No Hyde Park, nas manhãs de domingo, você sobe em alguma coisa qualquer e não está mais em território britânico. Fala o que quiser e tudo bem, ouve quem quiser.


O "pub", abreviatura de "public", abre às 11 horas, fecha às 15, reabre às 17 e fecha às 23 horas. O esdrúxulo horário ainda é herança da 1ª Guerra Mundial. Os operários saíam para o almoço, enchiam a cara e não voltavam para o 2º turno.  As guerras acabaram, mas o horário permanece. Quem quer beber fora de casa quando os pubs estão fechados, compra a bebida numa loja de conveniência, manda colocar num saco e bebe onde quiser. Sem o saco, entra em cana.


Uma vez, com a minha mulher, às quatro da tarde fui tomar água numa pastelaria chinesa, em Picadilly Circus, e vi uma garrafa de champagne francês. Estava uma delícia?


A primeira vez que fui a Londres, o príncipe Charles era solteiro e, por coincidência, fazia suas festinhas no hotel em que eu estava. Nunca me convidou?


Nesse mesmo hotel, estava eu degustando um Johnny Walker black label e perguntei ao barman qual a marca mais consumida de uísque lá. Ele apontou o meu copo e disse: - This.


Conta-se que em seu primeiro discurso na Câmara, Winston Churchill, muito jovem, foi advertido por um colega mais idoso que ele. Churchill havia se excedido em inteligência e brilhantismo, o que poderia suscitar a inveja dos menos aquinhoados.


Infelizmente, nunca recebi nenhuma censura desse tipo.


Inté.

Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

Comments