Agosto
Agosto esvai-se em seus últimos dias e deixa cada vez mais distante o mito de ser o mês das crises na política brasileira. Como …
Agosto esvai-se em seus últimos dias e deixa cada vez mais distante o mito de ser o mês das crises na política brasileira. Como se fossem apenas episódios periódicos sazonais e não um único confronto nascido ainda ao tempo de D. João III, entre donatários de capitanias, os já estabelecidos e os que querem se estabelecer. A tudo o povo tem assistido embasbacado, e não só na Proclamação da República, como registrou Aristides Lobo, sem nada a ver com calendários.
Já ouvi e li muitas teorias a respeito, quando o mito, tido como verdadeiro, era objeto de "sérias" elucubrações universitárias, hoje banquete das traças nas bibliotecas. A tese mais confortadora ao materialismo histórico em versão cabocla - isso também existe - foi a que circulou ao tempo da renúncia de Jânio Quadros, de que agosto era o mês da comercialização da safra de café e a briga pelo financiamento do Banco do Brasil sacudia a República.
O café cedeu seu "status" de primogênito na economia brasileira e nem por isso perdeu-se o hábito de querer depor governantes. Claro, agora tudo dentro do figurino legal - a nossa moda mais recente - como aconteceu com Collor, e que se presta muito a chantagens políticas, das quais Lula foge como o vampiro diante da cruz e do dente de alho, partilhando o governo geral com seus inimigos de infância.
A todas essas, agosto fica na lembrança pelos esquecimentos. Ninguém mais fala que o Getúlio daqueles dias era uma figura solitária, seus adeptos mais próximos entontecidos no redemoinho do "mar de lama", ele enfrentando de peito aberto o canhoneio que juntava todos na mesma trincheira, da extrema esquerda à extrema direita, Prestes justificando que era para não entregar aos lacaios do imperialismo norte-americano (leia-se Lacerda) o comando da crise. No próprio dia 24 de agosto de
No meio de tanta indignidade, o único gesto digno, o suicídio, dissecado em um livro magistral do qual também não se fala mais e quase ninguém conhece: Lições da crise, de Hermes Lima.
Lições, aliás, que parecem não ter servido para nada. Getúlio hoje é apenas bandeira, espólio, brasão ostentado pela mesma sede de poder que esteve na raiz da sua tragédia.