Abaixo do baixio
Abaixo a sola sintética do sapato, os pés da mesa, o chão que pisamos. Abaixo a barra da calça, o asfalto. Abaixo o tatu …
Abaixo a sola sintética do sapato, os pés da mesa, o chão que pisamos. Abaixo a barra da calça, o asfalto. Abaixo o tatu e a mulita. Abaixo o metrô. Abaixo as jazidas de carvão, as exploradas e as inexploradas. Abaixo a baixela que caiu e o cara agachado. Abaixo o lixo debaixo do tapete. Abaixo o lençol de baixo. Abaixo o tatame nas artes marciais, o degrau seguinte e o bueiro entupido. Abaixo a minhoca no solo e o elevador no subsolo. Abaixo as nossas raízes, as sociais e as plantadas pelos agricultores. Abaixo ao mortos indigentes em covas de sete palmos. Abaixo o porão e o poço no fundo do quintal. Abaixo a pedicure ganhando a vida e o mecânico consertando o chassi do carro. Abaixo o envelope enfiado por baixo da porta. Abaixo o anão. Abaixo o urinol no seu lugar sob a cama. Abaixo o bicho-de-pé. Abaixo o ralo do banheiro e as Sete Quedas submersas. Abaixo os jornais forrando cozinhas recém-lavadas. Abaixo a ínfima moeda que ninguém quer juntar. Abaixo o cocô de cachorro a evitar e a grama que também não se pode pisar. Abaixo o cabelo cortado cobrindo o piso da barbearia. Abaixo a velha carola rezando ajoelhada. Abaixo o parquê antigo se soltando a cada o. Abaixo o fundo sujo da piscina. Abaixo as pistas que a polícia não consegue seguir. Abaixo o calo na planta do pé. Abaixo os trilhos da Carris visíveis em alguns pontos da cidade. Abaixo o Arroio Dilúvio assoreado e suas garças esguias. Abaixo o tétano esperando no prego no assoalho. Abaixo toda a Terra. E acima, eu. Fazendo um rol inútil de tudo isso. |
![]() |
![]() |
![]() |
Anti-Leis Legais
Não acontecem gafes onde ninguém presta atenção a elas. |
![]() |
![]() |
![]() |
Quadrinha presa na ampulheta. Quando eu era o que não sou agora |