Abaixo-ajuda
Depois do fenômeno da auto-ajuda, agora a a abaixo-ajuda (que logicamente foi criada por mim). Chega desta história de a gente resolver tudo sozinho. …
Depois do fenômeno da auto-ajuda, agora a a abaixo-ajuda (que logicamente foi criada por mim). Chega desta história de a gente resolver tudo sozinho. Vamos lançar mão dos outros, da ajuda mútua, do companheirismo e da solidariedade. Deixemos de ser tão onipotentes, pensando que podemos resolver tudo sozinhos (como prega a auto-ajuda), pois definitivamente não podemos. Somos seres falíveis e gregários, dependemos uns dos outros.
Esta coisa de ser sempre feliz, como pregam alguns autores de auto-ajuda, é bastante infantil. Como já escrevi aqui, parece que as pessoas têm a obrigação e - mais do que isto - o poder de serem permanentemente felizes. Ora, gente, quem na sua vida é feliz 100% do tempo? Só mesmo os psicóticos, que perdem o contato com a realidade.
Se o Sucesso é Ser Feliz, como diz Roberto Shiniashiki, vou lançar o livro O Sucesso de ser Infeliz. Já dizia Vinícius de Moraes, falando sobre a tristeza: "(?) e uma bebida por perto/ porque você pode estar certo/ que vai chorar/ Tem sempre um dia em que a casa cai (?)". Nada contra a felicidade, muito pelo contrário. Quem não quer ser feliz? Todos queremos. Mas daí a ficar buscando a eterna felicidade, a eterna juventude, vai uma longa distância. Ser infeliz também é um sucesso (desde que sejam alguns momentos e não a vida toda de alguém). Há certas sacadas e reflexões que só mesmo a tristeza nos permite.
Vivemos em uma sociedade exageradamente competitiva e imatura. Temos que ser heróis a cada dia. Nada menos que isto. Temos que matar dois leões por dia para comer um feijãozinho frio ao final do dia. Até aí, é a realidade. Porém, ela se torna fantasiosa quando prega o mito do infalível, do eternamente jovem, e do belo, insuperavelmente belo.
Isto é de uma infantilidade atroz. De minha parte, aprendi ainda na infância que os caubóis eram peças de TV, bem como o Super-Homem. Prefiro me dar direito à tristeza, à barriga, aos cabelos brancos. Isto nos aproxima da condição humana e nos faz evoluir. Faz com que olhemos para dentro, não somente para fora (a parte externa de nosso corpo). Faz com que nos perguntemos: mas afinal, o que realmente importa na vida? Esta pergunta é eterna e tem inúmeras respostas, de acordo com quem as responde.
Aceitar as rugas, a falibilidade, é aceitar que somos humanos. Não somos, como gostaríamos, heróis da TV, que jamais falham. Este mito do infalível explica o porquê das vendas absurdas de Viagra, Cialis, etc. Não queremos nos deparar com nossa falibilidade, pois ela nos lembra que temos que amadurecer, crescer e itir a morte, o fim inevitável para todos. Claro que não é agradável itir que nossa vida um dia termina. Eu mesmo não consigo ainda pensar nisto. Mas não há escapatória.
Só que esta frustração, de aceitar nossas limitações, nos faz evoluir. Nos faz pensar para que, afinal de contas, tudo isto? Por que estamos aqui mesmo? Só porque meu pai e minha mãe me colocaram aqui? Não temos nada importante a fazer na vida? Perguntas, perguntas. Estas são fáceis. As respostas é que são difíceis. Feliz mesmo é quem consegue respondê-las com convicção, visitando o fundo de seu espírito.