A utilidade do Senado

A julgar pelo andar da carreta, a Comissão de Ética do Senado vai absolver o Senador Renan por existência de provas. O caso é …

A julgar pelo andar da carreta, a Comissão de Ética do Senado vai absolver o Senador Renan por existência de provas.


O caso é emblemático, atestando o distanciamento que há entre nossas classes dirigentes e a sociedade.


Desde 1989, o Senador está pendurado nos mais variados governos e desgovernos que tivemos, mantendo a lógica do "se tem cargos, tô dentro".


Em qualquer país razoavelmente sério, o que se estaria discutindo neste momento é a forma de aprofundamento das investigações para verificar se é um simples caso de cassação de mandato ou se um período na cadeia, com o concomitante ressarcimento dos prejuízos financeiros à sociedade, fariam bem ao Presidente do Senado.


Se a fonte de recursos que mantinha a pensão da filha vinha de recursos ilícitos, oriundos de tenebrosas relações, o caso seria de polícia. Caso contrário, se somente o que já foi confessado pelo Senador, confirmado pela mãe de sua filha e pelo executivo da Construtora foi o que ocorreu, o julgamento político e a cassação deveriam ser o caminho natural.


Ora o presidente do Senado do Brasil e, por conseguinte, do Congresso Nacional ter uma relação fora do casamento e desta relação nascer uma criança é uma questão de foro íntimo, que diz respeito apenas às pessoas envolvidas.


Porém, ainda que com recursos próprios, se este Senador, para efetuar o pagamento da pensão desta filha, utiliza os serviços do executivo de uma empreiteira, que depende de dotações orçamentárias votadas pela Casa que ele preside, estamos diante de um escândalo.


Ele escolheu, entre os mais de 6 bilhões de habitantes do planeta, alguém que não poderia conhecer seus mais íntimos segredos. Um senador não pode dever favores a um representante de uma companhia que faz negócios com o governo. Aliás, por que usar intermediários para estas entregas?


A conseqüência maior desta provável absolvição será um novo motivo para o enfraquecimento do Senado e do Poder Legislativo. Perde a sociedade, ganha músculos o Desgoverno Lula, que a a ter mais poder perante as casas legislativas. É mais um episódio circense, que nos remete à pergunta: para que serve o Senado, mesmo? 

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

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