A TVE em questão
Volto a falar da TVE. E o faço por várias razões, a principal delas pela importância intrínseca deste veículo que, abrigado no poder do …
Volto a falar da TVE. E o faço por várias razões, a principal delas pela importância intrínseca deste veículo que, abrigado no poder do Estado, é, fundamentalmente, e democrática e republicanamente, do povo. Talvez por ser tão assim, pública, ela não venha merecendo de seus reais donos (a população) o olhar acertado. Parece que as pessoas não se dão conta do quão importante é ter uma emissora de televisão não vinculada a conglomerados financeiros. Em tempo: absolutamente nada contra a iniciativa privada, antes que me incluam no rol dos chavistas déés. Esta característica peculiar é responsável por uma maleabilidade de programação que o jogo pesado dos anunciantes e dos interesses econômicos outros não permite às demais emissoras.
Para quem está cansado de espiar pelo buraco da fechadura a pobreza mental de uma dúzia de espertos candidatos a grana fácil que compensa em especial a exposição total de suas intimidades, a TVE oferece, por exemplo, um especial Tom Jobim. E o faz de graça, sem a necessidade de pagamento de uma tv a cabo. Está lá, ao alcance do zap, o melhor de um dos nossos melhores produtos. Quer sair da mesmice dos desenhos de traço japonês, personagens sempre com olhos esbugalhados (tenho uma teoria: os japoneses ainda mantêm, via olhos dos personagens de animação, o horror da bomba atômica, mas isso é outra conversa), e lá está o Pandorga, firme em sua resistência, ancorado nas coisas locais, nos interesses do seu público que, não sem razão, foi apontado, em pesquisa, como um dos responsáveis por levar à frente do aparelho os pais e parentes mais velhos. Tá de saco cheio de mediocridade pagodeira ou baiana? Basta relaxar no sofá para ver os concertos TVE, que priorizam, com toda a razão, os que a nossa qualificada Ospa realiza.
Na lista de jornalismo, TVE Repórter nada fica a dever a um Via Brasil, por exemplo, com a vantagem de focar mais fundo na realidade social e econômica sem muitos enfeites barrocos. A grade é rica, embora os azedos de plantão gostem de dizer que não é variada, não troca há tempos, como se pular de programa em programa fosse garantia de qualidade. Há problemas? Evidente que sim. Muitas vezes, as queixas são grandes de quem coloca sua atividade em pauta e não recebe a reportagem para o registro.
Mas como fazer milagres com, em geral, duas câmeras para externa? Com carros antigos? Aliás, no meu curto período de seis meses por lá, assisti muitos milagres da multiplicação de equipamentos, links e equipes, graças às parcerias. Portanto, é de todo inaceitável que, até o presente momento, fechando-se um mês do novo governo estadual, com toda uma programação andando e para ser posta no ar (veja anúncio aqui mesmo, no Coletiva, nas Notícias), o destino da TVE esteja ainda sob especulação.
Há informações de que a Fundação Cultual Piratini, que envolve a TVE e a FM Cultura (outro parâmetro de escolha de qualidade), deverá ficar sob os cuidados diretos do gabinete da governadora. Isso será bom? Será ruim? Só com o conhecimento amplo e democrático desta decisão se poderá saber. E que este conhecimento venha logo. Afinal, nós todos, que pagamos nossos impostos e queremos que este Estado seja grande, que estamos todos no mesmo barco torcendo para que os governos, sejam quais forem, sejam eficientes e alavancadores de bem-estar e igualdade, temos direito de saber. Saber, vigiar e opinar.
Eu, como cidadã (e, por favor, limpem esta palavra do seu significado tão apropriado por correntes da gauche caviar nos últimos tempos), quero saber o que vai ser da TVE. Urgente. Tenho, ou não tenho direito?