A Rainha Margherita

Enquanto historiadores catam mais informações sobre a origem da pizza, quase seis mil estabelecimentos na paulicéia comercializam a "redonda". Conhecida, hoje, como comida típica …


Enquanto historiadores catam mais informações sobre a origem da pizza, quase seis mil estabelecimentos na paulicéia comercializam a "redonda".


Conhecida, hoje, como comida típica italiana, há mais de 5.000 anos babilônios, hebreus e egípcios já assavam uma mistura de trigo com água, pontapé inicial para a pizza de hoje.


A versão que se cristalizou e ganhou o mundo surgiu e foi aperfeiçoada em Nápoles, e em 1830 já estava no cardápio de uma cantina daquela cidade.


A famosa pizza Margherita, também originária de Nápoles, foi uma criação patriótica do pizzaiolo Raffaele Sposito. O rei da Itália Uberto I e esposa - Rainha Margherita - em visita a Nápoles, em 1889, quiseram desfrutar da fama de Sposito e experimentaram uma pizza redonda que ele inventara com as cores da bandeira italiana, composta de molho vermelho de tomate, fatias brancas de mussarela de búfala e enfeitada com folhas verdes de manjericão. Informado que a rainha adorara a pizza, Sposito aproveitou o mote e batizou-a: "Regina Margherita". Com o ar do tempo (decadência da nobreza?) ou a ser a plebéia "Margherita".


Hoje, prato comum no mundo, quebra o galho de milhões de turistas que, gostando de pizza, evitam pedir o que não sabem e comer o que não gostam.


Há mais de 20 anos, em Nápoles, há uma instituição que protege a "cultura" da pizza e autentica os estabelecimentos que "rezam a missa" conforme manda a receita tradicional. Esses podem  anunciar suas pizzas como D.O.C, ou seja, "de origem controlada". 


Das três grandes vertentes da colonização italiana no Brasil, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e São Paulo, foi no "gueto" paulistano do Brás que a pizza inaugurou, no início do século XX, sua presença em cardápios comerciais. Castelões e Dom Carmenielo foram as cantinas pioneiras, na mesma época em que se vendia a "pizza ambulante": rodelas tamanho "brotinho" feitas em casa e vendidas nas ruas aquecidas em tambores de cobre.


A emigração para fora dos "guetos", que ganhou São Paulo e o Brasil, começou em 1943, no Paraíso, bairro paulistano, com a abertura da "Pizzeria Surpreza". 


Naquela época - e inda por bom tempo - as pizzas eram oferecidas em apenas dois sabores, mozzarella e aliche, e o mais comum era pedir-se uma pizza metade com um sabor, metade com o outro.


Primavera de 1958, Paulo José e eu, ao final de um ensaio do espetáculo teatral "Rondó 58", no Restaurante Universitário, em Porto Alegre, fomos com nossas respectivas namoradas a uma pizzaria.


Paulo José, conferindo as preferências, comandou:


- Duas pizzas mezzo aliche, mezzo mozzarella.


Eu:


- Não dá pra ser uma de cada?


Ciao, a presto!

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Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

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