Um comunicado lacônico, como sempre acontece nestes casos, relatou na semana ada que foram encerradas as versões impressas das revistas IstoÉ e IstoÉ Dinheiro. Em breves linhas, a Editora Três declarou que ?infelizmente, produtos como jornais e revistas se tornam cada vez mais escassos no mundo atual?. Bem ao contrário do que havia afirmado cinco anos antes o diretor presidente da empresa, Caco Alzugaray, filho do lendário Domingos, que havia fundado a empresa e inspirado a criação de suas publicações. Declarara em alto e bom som que ?a revista impressa não está acabando e nem vai acabar?. Ele acreditava que em função da concorrência dos meios digitais, a revista impressa ainda tinha seu espaço desde que alterasse o foco: deixar de dar uma atualização semanal, sua característica essencial, para se dedicar a análises e servir de farol sobre os rumos do mundo, do bairro, do país. 6x327
Havia anos que a editora enfrentava um período turbulento, num processo de recuperação judicial que a levava a se desfazer de seus títulos e bens. Dez anos atrás, em março de 2015, encerrara a publicação de IstoÉ Gente, a revista de celebridades que acabou engolfada pelas fofocas que iniciavam seus momentos de esplendor nas redes sociais. Começava a se tornar mais atraente, para as ditas ?celebridades?, ter seus próprios canais para auto exaltação, dispensando portanto as luzes cada vez mais opacas da imprensa tradicional.
A trajetória final da IstoÉ é triste e melancólica, e sai de cena sem deixar saudades. Quando foi criada, em maio de 1976, surgiu repleta de boas intenções e provocando muitas expectativas, a começar pelo fato de ser dirigida pelo jornalista Mino Carta. Mino já era respeitado por sua história anterior, que incluía participações fundamentais na criação e na consolidação do prestígio de veículos como Jornal da Tarde, Veja e Quatro Rodas. Iniciava com 170 páginas e uma tiragem invejável de 150 mil exemplares.
Conheci a redação da IstoÉ logo no início, levado pelo jornalista e amigo Jorge Escosteguy, um dos editores. Era minúscula, especialmente se comparada com a da Veja e sua centena de redatores e repórteres, mas mesmo assim fazia forte concorrência à coirmã que circulava desde 1968. Apresentava como troféu a própria trajetória de Mino Carta, então com 44 anos. Fez um grande sucesso mas ou a perder o rumo com a saída de seu inspirador, em 1981. Chegou a trocar de nome para IstoÉ Senhor, retornou logo depois para o nome original e foi pouco a pouco perdendo credibilidade, até se transformar no pastiche atual.
IstoÉ surgira quase ao mesmo tempo em que encerrava as portas a mensal Realidade, uma respeitada revista que, esta sim, deixou muita saudade. Ao atingir seu número 120 e exatos dez anos de criação, a Editora Abril decidiu fechar a publicação. Foi abatida, paradoxalmente, pela própria relevância dos assuntos que trazia, contribuindo para mudar o comportamento do brasioleiro, com reportagens impactantes por suas abordagens de temas como sexualidade - estamos falando dos anos 70 do século ado? -, comportamento e política, apresentados de forma corajosa e sem sensacionalismo. Destruía tabus, trazendo uma estrutura de texto inovadora, em que o repórter muitas vezes participava com narrações na primeira pessoa. Interesses da empresa se chocavam com a pauta ousada e revolucionária da revista. Perdeu o elo mais fraco?