A praga moderna sem cura

Ontem à noite, depois de ter recebido mail, via Terra, em nome de uma amiga querida e séria, contendo mais uma tentativa de invasão …

Ontem à noite, depois de ter recebido mail, via Terra, em nome de uma amiga querida e séria, contendo mais uma tentativa de invasão do meu computador em busca de senha, via vírus, radicalizei: mandei mensagem a toda a minha lista dizendo que vou deletar toda e qualquer mensagem com arquivo anexo, do tipo exe. Cansei. Vou, com certeza, deixar de ver coisas interessantes (embora a maioria dos spams, apesar de bonitos e bem feitos, nada acrescente na vida e só nos roube tempo), mas não tem saída. Primeiro, porque os antivírus não conseguem barrar todos os tipos de sacanagens que nos enviam. Segundo, porque há, evidentemente, um interesse em que estas pragas se instalem em nossos pcs para que prospere a indústria dos programas que as combatem. E não adianta dizer que muitos antivírus são gratuitos, porque, na real, entre a criação e a entrega, existe todo um processo que, em alguma ponta, é pago.


Não sei a que santo se acende vela para acabar com isso. Nem creio que vai se terminar. No entanto, estou dando minha solução. Caseira e talvez boba. Mas é o que posso fazer.


Não faz 20 dias, paguei uma grana para consertar o computador que simplesmente saiu do ar por causa de um Cavalo de Tróia. Todos os dias, duas vezes ao dia, o Spybot e mais AVG, Norton e Avast, e o que mais tiver, em cada computador da casa, para tentar ao menos atacar o mais breve possível o que está na porta para entrar. Como sou ignorante do mecanismo que faz com que esta peste moderna aja, devo deixar escapar muita coisa e me dou conta quando tudo começa a ficar mais lento, ou misteriosas janelas se abrem sem serem solicitadas na tela.


No artigo Lei Digital,  do Estadão, Douglas Miura conta que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado está analisando projeto de lei que dispõe sobre os cibercrimes, ou seja, as infrações cometidas por meio "eletrônico ou digital ou similares". O projeto propõe alterar, entre outros atos normativos, artigos do Código Penal, do Código Penal Militar, do Código Processual Penal e do Código do Consumidor e pretende tipificar atividades criminosas envolvendo não só a Internet, mas também cartões de crédito e telefones celulares. Será que vinga? Sei lá.


Um pouco de história: esse termo, "vírus de computador", foi criado  em 1983 pelo engenheiro elétrico americano Fred Cohen, que concluiu seu doutorado em 1986 com um trabalho sobre o tema, inspirando-se nos vírus biológicos, a menor forma de vida conhecida, que se reproduzem infectando uma célula e usando o material genético desta para criar novos espécimes. O primeiro maldito invasor seria descoberto em 1986, atendendo pelo nome de Brain e se propagava pelos disquetes. Porém, não foi o primeiro dos chamados códigos maliciosos: o Elk Cloner, criado por este senhor que lhe deu nome, já infectava máquinas Apple II.


Bons tempos, aqueles, que duraram até 95, quando grandessíssimos canalhas aram a desenvolver o vírus de macro, que reinou soberano por quatro anos.


Com a popularização do e-mail, surgiram os causadores de epidemia, como o Loveletter ou ILOVEYOU, que só foi controlado em 1999, depois de ter causado prejuízos de 9 bilhões de dólares. Mas ainda era uma época de bonança: o tempo de propagação batia em um dia. Até que, em 2001, com o surgimento do Blaster e do Sasser, entre outros, este prazo ou para uma hora apenas. Os cerca de 200 mil vírus enumerados por empresas de segurança até o ano ado devem ter crescido astronomicamente - a previsão é de que dobrariam em menos de dois anos.


Pior: de hobby de nerds calhordas, ganhou status profissional, ando a render muitos dólares na conta de seus criadores. E nós, pobres usuários que só querem poder enviar no prazo seus materiais via mail, aqui, basbaques, no meio de tudo isso, praticamente sem ação.


Não creio que isso tenha solução. Nem cadeia nem pena de morte resolverão. Sempre vai ter alguém para se prestar a dar vida a um ser invisível capaz de tirar o sono dos internautas. A única coisa que se pode fazer é ficar sempre atento. Agora, por exemplo, vem aí o Dia dos Namorados e, como todos os anos, vão proliferar as mensagens do tipo "alguém lembrou de você", que levam carentes de todas as latitudes a clicar no link e dar de cara com nada, embora, com este gesto, já tenham condenado sua vida ao inferno. 

Autor

Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maristela Bairros já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini. É autora de dois livros: Paris para Quem Não Fala Francês e Chutando o Balde, o Livro dos Desaforos, ambos editados pela Artes & Ofícios.

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