A misoginia falou mais alto no debate dos presidenciáveis
Por Márcia Martins

Nunca antes na história deste País tivemos um debate entre presidenciáveis com tanta misoginia, como o do último domingo, 28 de agosto, organizado pela Rede Bandeirantes de Televisão. O que era para ser o primeiro grande confronto entre os candidatos que concorrem à presidência do Brasil, na eleição majoritária de 2 de outubro e 30 de outubro (segundo turno, se houver), transformou-se num circo de horrores de desrespeito, ironia, discriminação e, infelizmente, uma total ausência de projetos de cada postulante. Espera-se que, nos próximos encontros, exista, no mínimo, respeito com o eleitor e a eleitora.
Os ataques mais inexplicáveis (e lamento muito quem ainda não percebeu o enorme erro da sua eleição em 28 de outubro de 2018 - eu não carrego essa culpa) foram proferidos pelo presidente Jair Bolsonaro, que busca a reeleição pelo PL. Em diversas intervenções, ele foi preconceituoso e desrespeitoso.
Mas, mais uma vez, como tem sido ao longo de seu mandato, e por isso, trato disso nesta coluna, Bolsonaro desconsiderou e menosprezou as mulheres e os jornalistas. Logo, me senti, duplamente atacada. As mulheres têm sido, até antes de ser eleito, um dos alvos preferidos de ataque do atual presidente. A imprensa também. Segundo dados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, de janeiro de 2021 até a primeira quinzena de dezembro do ano ado, ele atacou a imprensa ao menos 68 vezes.
No debate de domingo, o mais grave foi a agressão à jornalista e mulher Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura, colunista do jornal O Globo e comentarista da CBN. Num ataque totalmente sem sentido (e mesmo que existisse motivo, não deveria ter feito), Jair Bolsonaro disparou um rol de barbaridades contra a colega, dizendo que ela dorme pensando nele, que tem uma paixão pelo presidente e finalizou afirmando que ela é uma vergonha para o jornalismo brasileiro.
Tanta misoginia simplesmente porque a jornalista fez uma pergunta sobre a queda da cobertura vacinal ao candidato Ciro Gomes e indicou Bolsonaro para comentar. Quer dizer, como se espera do atual presidente da Nação e alguém que deseja a reeleição, bastava apenas responder. E não mostrar tamanho desprezo, novamente com uma mulher e jornalista.
No decorrer do debate, em que seguramente ao invés de atrair mais votos de mulheres deve ter perdido eleitoras, o atual presidente, reforçou em seguidas manifestações, o seu desrespeito com o sexo feminino. E chegou ao absurdo de defender que é preciso parar de vitimismo das mulheres, lembrando que "se ela fez algo errado tem que responder por isso". Jamais pensamos o contrário. Todos, todas e todes devem pagar pelos seus erros. Mas não se trata de vitimismo falar do elevado número de violência contra as mulheres, da falta de políticas públicas e da queda dos investimentos do Governo Federal para tal tema.
Por fim, vale ressaltar que na concepção mais simples da palavra, que tem origem grega, misoginia é uma aversão doentia às mulheres. Trata-se de um comportamento, segundo os especialistas, com bases psicológicas profundas, e pode até ser o reflexo de uma elaboração da sexualidade de quem a pratica.