A luta contra a homofobia, transfobia e bifobia deve ser diária

Por Márcia Martins

No Dia Internacional contra a LGBTfobia, que foi celebrado na terça-feira, 17 de maio, o cenário no Brasil não é exatamente de comemoração. É urgente que se reduza esta forma de preconceito e discriminação, o que exige uma luta de resistência, árdua e diária, uma vez que o Brasil é o país que mais mata a população LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexual, assexual e + para quem não se sente contemplado com nenhuma das sete siglas). A LGBTfobia ou LGBTQIA+homofobia é o ódio ou rejeição às pessoas que pertencem a essas comunidades.

Muito ainda precisa ser mudado para que esse dia tenha realmente significado de exaltação no nosso País. Ou melhor, que não se veja mais qualquer tipo de preconceito e discriminação. Ainda vivemos sob o manto da ignorância e o crescimento de crimes homofóbicos contra a população LGBTQIA+ é a prova de que não existe respeito pelo direito que as pessoas têm de amar e serem amadas, da forma que lhes deixar felizes e capazes de serem plenas.

Ninguém tem absolutamente nada a ver com a orientação sexual de cada um. Por isso, é de estranhar e mais do que isso - lamentar muito - que o Brasil siga, pelo quarto ano consecutivo, como o país que mais mata a população LGBTQIA+. A cada 29 horas uma pessoa é morta devido a sua orientação sexual ou identidade de gênero no Brasil. Em 2021, foram 276 homicídios e 24 suicídios, o que indica um aumento de 8% se comparado ao ano de 2020.

Os números são do Relatório de Mortes Violentas de LGBT no Brasil, divulgado pela ONG Grupo Gay da Bahia e do Relatório do Observatório de Mortes e Violência contra LGBTQIA+. Os dados apontam que 35% dos casos foram registrados na Região Nordeste, seguida pela Região Sudeste (33%). Já o Estado com maior número de morte foi São Paulo (42%), depois na sequência aparece a Bahia (32%) e Minas Gerais (27%). As maiores vítimas continuam sendo as mulheres trans negras.

O que pode incomodar tanto uma pessoa se João namora com Antônio ou se Suzana é casada com Letícia? É difícil contextualizar essa preocupação com a vida alheia. Só pode ser infelicidade. Gente feliz não se mete com a vida dos outros e nem vasculha e intimidade alheia. Importa sim garantir, acima de qualquer tipo de orientação sexual ou identidade de gênero, que lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e demais pessoas enquadradas na sigla LGBTQIA+ sejam tratadas com dignidade e não sofram nenhum tipo de discriminação.

Embora tenhamos um Governo Federal que exerce todo o tipo de preconceito, estimula o ódio e incentiva a violência, ignorando a Declaração Universal dos Direitos Humanos que garantiu, em 1948, igualdade em dignidade e direitos a todos os seres humanos, precisamos lembrar que a LGBTQIA+homofobia não é um crime recente. A primeira vítima de homofobia que se tem notícia no País foi um índio da tribo Tupinambá, assassinado em 1614 com o apoio dos jesuítas em São Luís, no Maranhão, por conta da sua orientação sexual.

Em cada 17 de maio, enquanto persistir a LGBTQIA+homofobia, iremos reforçar as reivindicações de medidas para combater esse tipo horrendo de discriminação. Porque a batalha pela garantia dos direitos humanos, contra o preconceito de identidade de gênero ou orientação sexual é uma luta diária. A data nasceu em 1990 quando a Organização Mundial da Saúde retirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais da Classificação Internacional de Doenças. E 32 após, tanta gente aqui no Brasil parece que não entendeu ou prefere não entender - porque esses sim são os verdadeiros doentes - que qualquer maneira de amor vale a pena.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve agens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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