A lealdade do consumidor e sua conexão com a essência das marcas

Por Elis Rann

Muitas marcas afirmam ter um propósito, destacando seu diferencial competitivo e seu impacto positivo nas pessoas e no mundo. Esse propósito pode estar associado a um estilo de vida ou a uma experiência única. O discurso convencional aponta que essas marcas se preocupam com o meio ambiente, atuam com responsabilidade social, inclusão e apoiam projetos comunitários. No entanto, nem sempre o que faz sentido para o marketing e a comunicação é relevante para o consumidor.

Pesquisas qualitativas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião com diferentes segmentos de consumidores mostram que uma marca de propósito é aquela que faz diferença na vida das pessoas. O propósito, na perspectiva do consumidor, está diretamente conectado à utilidade e ao bem-estar proporcionado pela marca. Uma marca de propósito traz sentido para a vida das pessoas!

Os consumidores, em geral, têm dificuldade de acompanhar os elementos simbólicos que as marcas associam ao seu propósito. Muitas vezes, não compreendem suas narrativas, o que leva à incapacidade de citar marcas que se autodefinem como "de propósito".

Entretanto, os consumidores que demonstram lealdade a uma marca são aqueles que conseguem identificar seu verdadeiro valor. Eles reconhecem seus atributos e sua proposta, que nem sempre coincidem com o que a marca enfatiza em sua comunicação.

Um exemplo claro de marca que une relação afetiva, utilidade e bem-estar é a Havaianas. Seu chinelo confortável é ível a todas as classes sociais, tornando-se quase um companheiro de jornada. Para alguns, representa o alívio ao chegar em casa; para outros, está associado às férias e ao lazer. Há também aqueles que consideram um privilégio poder conciliar trabalho e Havaianas no dia a dia.

E este é o ponto-chave na percepção do propósito de uma marca: a lealdade do consumidor está conectada à emoção e à sua própria necessidade de qualidade de vida. Em outras palavras, o propósito da marca é menos sobre a narrativa corporativa e mais sobre como o consumidor enxerga a marca como essencial para o seu dia a dia.

E este comportamento é cada vez mais sintomático nos consumidores com menos de 40 anos que acompanham a história de vida de outras pessoas, como no caso dos influenciadores digitais que integram uma marca ao seu cotidiano e am a relatar os atributos dela em sua jornada de utilização. Para os jovens, os influenciadores não fazem propaganda, eles contam a sua experiência de uso.

Autor
Elis Rann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

Comments