A Imprensa, o Ministério Público e o Judiciário

Desde que recrudesceu a crise econômica do Rio Grande do Sul, os embates com o executivo, de um lado, e o Ministério Público e …

Desde que recrudesceu a crise econômica do Rio Grande do Sul, os embates com o executivo, de um lado, e o Ministério Público e o Judiciário de outro, viraram rotina na mídia pampeana.


A discussão atual iniciou-se no Pacto pelo Rio Grande, quando, de início, houve a reivindicação de um reajuste no orçamento por parte do MP e do Judiciário de 10%. Após muita negociação ficou acertado que o percentual de incremento orçamentário seria de 3,8%.


Interessante, nas empresas privadas que conheci como executivo e como consultor, quando se falou em economia, falou-se em redução de gastos e não de redução no aumento dos gastos.


Na semana que ou, com o início dos trabalhos da equipe de transição da futura Governadora, o assunto voltou à baila. É desejo do novo Governo uma maior redução do índice.


Ora, o fim do filme nós sabemos onde vai dar. Bravatas de parte a parte, ameaças mais ou menos veladas, e la nave va?


Cabe discutir, no entanto, o papel da imprensa neste episódio, e em todos os demais em torno do tema.


Com as exceções de praxe, a imprensa gaúcha tem-se comportado como uma assistente de jogo de tênis, relatando ponto e contraponto. Rebatidas de um lado e de outro. Por que será?


Em meio às discussões, por exemplo, um representante dos servidores do MP acusou o órgão de gastar excessivamente na construção de prédios e na aquisição de veículos. Será que é verdade? Se for, cabem correções, fica demonstrado que há "gordura" a ser queimada no budget do MP; caso contrário, o servidor que se explique.


O que não é possível aceitar é que a opinião pública fique à mercê de afirmações sem qualquer busca de esclarecimento. A imprensa publica, porém não investiga.


O que se espera é a reportagem que vá a fundo, que verifique se há ou não luxos excessivos nos prédios. Se os carros eventualmente adquiridos são necessários e adequados.


É claro que há um quê de subjetividade nesta análise. É imperativo que se usem parâmetros de comparação: hospitais públicos e automóveis da Brigada Militar, por exemplo.


Da mesma maneira, cabe análise acerca da remuneração dos cargos do MP e Judiciário. O discurso dos seus representantes indica necessidade de reajuste para os juízes em início de carreira. Fala-se de salários elevados nas funções istrativas, assistentes, ascensoristas, etc.


Mais uma vez, cabe à imprensa, sem violar a remuneração dos indivíduos, apresentar indicadores claros e objetivos acerca do tema.


É um direito do cidadão que paga impostos conhecer sua destinação.


Mais uma vez estaremos lidando com subjetividades: o que é muito e o que é pouco em se tratando de salários? E de novo recomenda-se utilizar os proventos totais de outros ocupantes de cargos públicos: um delegado de polícia, uma professora ou um soldado?


É imperativo que não se cometa injustiças: se realmente o MP e o Judiciário estão sendo sacrificados pelo Pacto, que se acerte a situação; se, pelo contrário, há privilégios, ainda que nada se faça, que, ao menos, a sociedade fique sabendo.


Que a imprensa cumpra o seu papel!

Autor
André Arnt, diretor da Coletiva EAC, é de empresas, consultor e professor universitário. Coordenou cursos de pós-graduação nas áreas de negócios e marketing. Atua como consultor em estratégia empresarial. É colaborador da Coletiva.net.

Comments